DIA 09 ÀS 19 H NA CÂMARA MUNICIPAL
VOCÊ
TEM UM ENCONTRO COM ARNALDO MARCOLINO
DO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE
PARA DEBATER O PAPEL DA POPULAÇÃO NO FUNCIONAMENTO DO
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
quinta-feira, 31 de março de 2011
ENCONTRO COM O DEPUTADO SIMÃO PEDRO EM UBATUBA
amigas e amigos
O Deputado Estadual Simão Pedro vem a Ubatuba, no dia primeiro de Abril, sexta-feira.
A visita será para agradecimento dos votos obtidos na cidade em 2010, já que o deputado foi o mais votado do PT no município e tem um relacionamento de longa data conosco.
Conto com a presença, no horário e local da agenda que lhe for mais apropriado. O importante é que compareça, para ouvir as palavras do deputado, que agora nos ajudará muito nos
caminhos que temos de percorrer até 2012.
Conto com participação e ajuda na divulgação.
Maurício Moromizato
A AGENDA é a seguinte:
SEXTA-FEIRA, 01 DE ABRIL DE 2011
11h-12h - Agradecimento de votos e reunião com companheiros e eleitores da região sul de Ubatuba
Quilombo da Caçandoca.
13-15h - almoço com equipe de campanha e reunião com comunidade do pé-da-serra e região oeste -
Local: sede da fundação alavanca, na Rodovia Osvaldo Cruz, 6345
Aproveitará para conhecer a instituição e o projeto cine-comunidade, realizado com recursos de emenda parlamentar do mesmo;
16h-17h - Reunião com empresários e donos de quiosques
Restaurante BOM KILO - Av. Wilson Abirached, ao lado da Banca do Bia - Praia Grande
17:30-18:30hs - café com militância do PT
Diretório Municipal do PT - Rua Dr. Esteves da Silva, 147 sala 09 - Shopping Iperoig
Em todos os momentos a pauta será o agradecimento pela votação obtida em 2012, a apresentação do mandato e os desafios que teremos pela frente,
junto com as diversas realidades que temos aqui em Ubatuba e o apoio que teremos desde agora para os enfrentamentos que estão por vir.
Obrigado,
Maurício Moromizato
O Deputado Estadual Simão Pedro vem a Ubatuba, no dia primeiro de Abril, sexta-feira.
A visita será para agradecimento dos votos obtidos na cidade em 2010, já que o deputado foi o mais votado do PT no município e tem um relacionamento de longa data conosco.
Conto com a presença, no horário e local da agenda que lhe for mais apropriado. O importante é que compareça, para ouvir as palavras do deputado, que agora nos ajudará muito nos
caminhos que temos de percorrer até 2012.
Conto com participação e ajuda na divulgação.
Maurício Moromizato
A AGENDA é a seguinte:
SEXTA-FEIRA, 01 DE ABRIL DE 2011
11h-12h - Agradecimento de votos e reunião com companheiros e eleitores da região sul de Ubatuba
Quilombo da Caçandoca.
13-15h - almoço com equipe de campanha e reunião com comunidade do pé-da-serra e região oeste -
Local: sede da fundação alavanca, na Rodovia Osvaldo Cruz, 6345
Aproveitará para conhecer a instituição e o projeto cine-comunidade, realizado com recursos de emenda parlamentar do mesmo;
16h-17h - Reunião com empresários e donos de quiosques
Restaurante BOM KILO - Av. Wilson Abirached, ao lado da Banca do Bia - Praia Grande
17:30-18:30hs - café com militância do PT
Diretório Municipal do PT - Rua Dr. Esteves da Silva, 147 sala 09 - Shopping Iperoig
Em todos os momentos a pauta será o agradecimento pela votação obtida em 2012, a apresentação do mandato e os desafios que teremos pela frente,
junto com as diversas realidades que temos aqui em Ubatuba e o apoio que teremos desde agora para os enfrentamentos que estão por vir.
Obrigado,
Maurício Moromizato
quarta-feira, 30 de março de 2011
”O STF mais parece uma casa de horrores”, afirma filósofo
Publicado em março 30, 2011 por outrapoliticaemsampa
Vladimir Safatle, Folha de S. Paulo, 29 de março de 2011
Há momentos em que o STF mais parece uma casa de horrores. Como se não bastasse ter se notabilizado nos últimos anos por tirar da cadeia banqueiros corruptores e proteger torturadores da ditadura militar, ele agora conseguiu colocar em xeque a aplicação de uma lei que visava impedir políticos em julgamento de se apresentar em eleições.
Se levarmos em conta as argumentações de certos juízes do STF, nem sequer a aplicação da lei a partir de 2012 está realmente garantida.
Alguns defensores da decisão afirmaram que a lei quebrava o conceito de inocência presumida. No entanto, ela era principalmente um dispositivo de segurança social contra políticos que já haviam sido condenados em alguma instância, isso ao criar uma suspensão da possibilidade de concorrer a novas eleições enquanto durar o processo.
Não se trata de julgamento consumado, mas parte de um procedimento de julgamento em curso. Pessoas já julgadas em primeira instância devem se afastar de cargos públicos até ficar claro que não representam risco ao funcionamento do processo político.
Não se pode dizer que a lei quebre a vontade popular. Aquele que recorre sistematicamente à compra de votos, ao abuso do poder econômico, ao monopólio de mídias locais, produz distorções profundas no processo eleitoral.
Eles calam as vozes dissonantes, aproveitam-se de situações de vulnerabilidade, como a miséria e a necessidade de amparo social, criando relações forçadas de dependência. Por isso, tais distorções impedem que a vontade popular se expresse.
Da mesma forma, dizer que a mera leitura do artigo 16 da Constituição Federal resolvia a questão é, no mínimo, considerar a quase metade do STF, que votou a favor da aplicação da Lei Ficha Limpa para a eleição de 2010, como inapta.
Pode-se sempre argumentar que o espírito da lei visava impedir mudanças casuístas de regras no meio do processo eleitoral, isso a fim de privilegiar partidos ou grupos. A Lei da Ficha Limpa estava longe de ser algo dessa natureza.
Por fim, é aterrador ouvir juízes afirmarem que a opinião pública não deve ser levada em conta ao se interpretar a lei. Isso revela o caráter monárquico do Judiciário.
Trata-se de um poder sem participação popular em nenhuma de suas instâncias. No Brasil, nem sequer promotores públicos são eleitos.
Amparados num positivismo jurídico equivocado, eles se esquecem de se perguntar sobre qual vontade popular está por trás da letra da lei.
O que não é estranho para alguém que nunca precisará prestar contas ao povo (como é o caso do Executivo e do Legislativo). Por isso, as discussões sobre reformas do Judiciário deveriam partir da necessidade de sanar o deficit democrático desse poder.
Vladimir Safatle, Folha de S. Paulo, 29 de março de 2011
Há momentos em que o STF mais parece uma casa de horrores. Como se não bastasse ter se notabilizado nos últimos anos por tirar da cadeia banqueiros corruptores e proteger torturadores da ditadura militar, ele agora conseguiu colocar em xeque a aplicação de uma lei que visava impedir políticos em julgamento de se apresentar em eleições.
Se levarmos em conta as argumentações de certos juízes do STF, nem sequer a aplicação da lei a partir de 2012 está realmente garantida.
Alguns defensores da decisão afirmaram que a lei quebrava o conceito de inocência presumida. No entanto, ela era principalmente um dispositivo de segurança social contra políticos que já haviam sido condenados em alguma instância, isso ao criar uma suspensão da possibilidade de concorrer a novas eleições enquanto durar o processo.
Não se trata de julgamento consumado, mas parte de um procedimento de julgamento em curso. Pessoas já julgadas em primeira instância devem se afastar de cargos públicos até ficar claro que não representam risco ao funcionamento do processo político.
Não se pode dizer que a lei quebre a vontade popular. Aquele que recorre sistematicamente à compra de votos, ao abuso do poder econômico, ao monopólio de mídias locais, produz distorções profundas no processo eleitoral.
Eles calam as vozes dissonantes, aproveitam-se de situações de vulnerabilidade, como a miséria e a necessidade de amparo social, criando relações forçadas de dependência. Por isso, tais distorções impedem que a vontade popular se expresse.
Da mesma forma, dizer que a mera leitura do artigo 16 da Constituição Federal resolvia a questão é, no mínimo, considerar a quase metade do STF, que votou a favor da aplicação da Lei Ficha Limpa para a eleição de 2010, como inapta.
Pode-se sempre argumentar que o espírito da lei visava impedir mudanças casuístas de regras no meio do processo eleitoral, isso a fim de privilegiar partidos ou grupos. A Lei da Ficha Limpa estava longe de ser algo dessa natureza.
Por fim, é aterrador ouvir juízes afirmarem que a opinião pública não deve ser levada em conta ao se interpretar a lei. Isso revela o caráter monárquico do Judiciário.
Trata-se de um poder sem participação popular em nenhuma de suas instâncias. No Brasil, nem sequer promotores públicos são eleitos.
Amparados num positivismo jurídico equivocado, eles se esquecem de se perguntar sobre qual vontade popular está por trás da letra da lei.
O que não é estranho para alguém que nunca precisará prestar contas ao povo (como é o caso do Executivo e do Legislativo). Por isso, as discussões sobre reformas do Judiciário deveriam partir da necessidade de sanar o deficit democrático desse poder.
sábado, 26 de março de 2011
Contra o tráfico de pessoas
Adital
Priscila Siqueira, da ONG Serviço à Mulher Marginalizada
Paulo Lima/ Balaio de Noticias -
As estatísticas são impressionantes. De acordo com a ONU, de 1 a 4 milhões de pessoas são traficadas anualmente no mundo. As maiores vítimas são mulheres jovens e meninas. A atividade criminosa movimenta anualmente cerca de US$ 12 bilhões. Trata-se da terceira atividade ilegal no mundo, só ficando atrás do tráfico de armamento e drogas.
O Brasil responde com cerca de 15% das mulheres que deixam a América Latina para trabalhar em prostíbulos e saunas no mundo inteiro, segundo denúncia apresentada no 1º Seminário Internacional sobre Tráficos de Seres Humanos, ocorrido em 2000, em Brasília.
Há cerca de 75 mil mulheres brasileiras se prostituindo em países da Europa, segundo estatísticas da Fundação Helsinque. O crime tem à sua disposição 131 rotas de tráfico de mulheres, segundo reportagem da Folha.
Para evitar a divulgação desse “cartão postal” pouco lisonjeiro do País, foi criada há 12 anos a ONG Serviço à Mulher Marginalizada (SMM), com sede em São Paulo, que conta com a articulação da jornalista Priscila Siqueira.
Autora do estudo “Tráfico de mulheres – oferta, demanda, impunidade”, Priscila tem participado de encontros e seminários no exterior que procuram discutir o problema. Ano passado esteve na Alemanha e nos Estados Unidos.
A exploração sexual de mulheres, tão presente no Brasil, especialmente no Nordeste, não está na pauta da nossa imprensa da forma que deveria. “Agora, após o governo Lula, quando o assunto deixou de ser tabu, é que a imprensa de nosso País tem dado atenção a essa questão”, diz Priscila.
Mas na imprensa americana o tema tem sido alvo de matérias especiais. Este é o caso, segundo Priscila, das reportagens de Nicholas D. Kristof, do New York Times, que há anos vem denunciando a exploração sexual de mulheres na Ásia. As reportagens de Nicholas,com amplos recursos multimídia, estão disponíveis na versão online do NYT.
Segundo Priscila, apesar de algumas práticas isoladas de combate à exploração sexual já começarem a surgir no Brasil é o Estado que precisa assumir a liderança dessas atitudes. A imprensa poderia ter um papel preponderante nesse processo, “ajudando a conscientizar a sociedade para o fato de que o problema não atinge somente as camadas mais pobres”.
Um dia antes de embarcar para a Noruega, onde foi ajudar numa campanha de conscientização sobre o tráfico de seres humanos, ela concedeu por e-mail a entrevista que se segue.
- Como o combate à exploração sexual comercial de mulheres e crianças, no Brasil, pode ser bem sucedido, enquanto perdurarem as condições de reprodução desse tráfico, como a pobreza, a miséria e níveis baixíssimos de educação?
Priscila Siqueira – Quando analisamos a questão do tráfico de seres humanos, sempre recorremos ao clássico triângulo de três lados iguais, que são a Oferta, a Demanda e a Impunidade. O que provoca a oferta são exatamente as condições econômicas degradantes que atingem milhões de pessoas no mundo como também em nosso País.
Obviamente estas condições econômicas são reforçadas por questões culturais, como o machismo e o patriarcalismo. Só que não podemos ficar à espera de que tais problemas terminem para enfrentarmos o tráfico de seres humanos. A luta é concomitante e dialética.
- Em quais regiões do Brasil a situação é mais alarmante?
P.S. – A pesquisa Pestraf [sobre tráfico de mulheres crianças e adolescentes para fins de exploração comercial no Brasil], de 2002, coordenada pelas pesquisadoras Maria Lúcia Leal e Maria de Fátima Leal, da Universidade de Brasília, mostra que no Nordeste brasileiro, assim como no Centro-Oeste, há um maior número de crianças e mulheres traficadas.
- Onde, no Brasil, vocês têm identificado as melhores práticas de combate a esse tipo de crime?
P.S. – As práticas de luta contra esse crime hediondo começam a aparecer em diversos lugares de nosso País. Por exemplo, o Rio Grande do Norte tem uma tradição de combate ao turismo sexual que não é a mesma coisa que tráfico de seres humanos, mas é uma porta aberta para que mulheres e crianças sejam traficadas. Por outro lado, em diferentes municípios brasileiros, ou o poder público ou a sociedade civil iniciou lutas de enfrentamento ao problema. Mas são atitudes isoladas que precisam ser assumidas num plano mais amplo sob a liderança do próprio Estado brasileiro.
- Na sua opinião, a atuação da imprensa brasileira tem sido satisfatória na denúncia desses problemas?
P.S. - Agora, após o governo Lula, quando o assunto deixou de ser tabu, é que a imprensa de nosso País tem dado atenção a essa questão.
- O que mais poderia ser feito por essa mesma imprensa?
P.S. – Ajudar a conscientizar a população que o tráfico de seres humanos existe e que não é somente uma ameaça às classes mais pobres (daí eu não preciso me preocupar), mas a toda sociedade brasileira.
- Você tem noção da atuação das imprensas americana e européia a respeito dessas questões?
P.S. – O New York Times tem publicado matérias sobre o tráfico principalmente na Ásia, onde o jornalista Nicholas D. Kristof – numa reportagem denúncia – chegou a comprar duas adolescentes com direito a recibo...
- Ano passado você participou na Alemanha de um encontro em que se discutiu o tráfico de mulheres, e esteve presente em reunião na ONU que tratou do tráfico de seres humanos. Que diretrizes foram retiradas desses encontros?
P.S. – Tanto na Alemanha quanto na ONU, nossa luta é mostrar que o tráfico de seres humanos tem relações profundas com a miséria e exploração dos países do terceiro mundo. A rota do tráfico de seres humanos é a rota da grana. As pessoas são presas fáceis do tráfico, pois estão atrás de condições mais dignas de vida. Por outro lado, o tráfico de seres humanos tem de ser encarado como um crime contra os Direitos Humanos, aliás, o pior desrespeito à dignidade humana na atualidade Queremos também trabalhar com a demanda para entendermos melhor o que faz um homem se sentir no direito de usar sexualmente uma criança ou uma mulher em situação de vulnerabilidade.
- A SMM mantém parceria com instituições internacionais? Como funcionam essas parcerias?
P.S. – Nossas parcerias são com agências internacionais (como a Igreja Reformanda da Noruega, a Cordaid e a Miserior), que nos permitem travar esta luta de enfrentamento à exploração sexual comercial de mulheres e crianças.
- E no Brasil, quais são as parcerias estabelecidas?
P.S. – No Brasil nossas parcerias são de trabalho com outras ONGs e movimentos que atuam na área.
- Não é contraditório que no Brasil o poder público tente combater o turismo sexual e, por outro lado, as políticas de incentivo ao turismo estimulem uma visão sensual dos nossos litorais?
P.S. – Essa é uma das nossas lutas – fazer com que se venda a imagem das paisagens brasileiras e não as bundas de nossas mulheres...
- Em sua opinião, a regulamentação da prostituição como profissão poderia inibir as atividades ilícitas em torno dessa atividade?
P.S. – A regulamentação da profissão de prostituta tem de ser discutida amplamente, principalmente com as profissionais do sexo. A formulação da lei tem de ser cuidadosa para não prejudicar ainda mais a mulher traficada, transformando o tráfico de seres humanos em uma atividade legal.
- Qual o ranking ocupado pelo comércio do tráfico de mulheres no mundo? Quanto o tráfico rende anualmente aos criminosos?
P.S. – Segundo a ONU, o tráfico de seres humanos é a terceira atividade ilegal no planeta, perdendo somente para o tráfico de armamentos e drogas, respectivamente. Daria um lucro anual de 12 bilhões de dólares.
- Qual a posição do Brasil nesse cenário?
P.S. – Infelizmente somos o campeão de “exportação” de mulheres e crianças para a indústria da prostituição no primeiro mundo em toda América do Sul.
- Diariamente a imprensa divulga casos de punição de crimes de naturezas diversas, mas pouco é noticiado sobre turismo sexual ou tráfico de pessoas. A lei existente é pouco efetiva a esse respeito?
P.S. – Lembra da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito, coordenada pela senadora Patrícia Saboya Gomes, do PPS, sobre exploração sexual de crianças e adolescentes, na qual vários figurões brasileiros foram implicados? Uma de nossas questões é saber como foram punidos e onde estão agora. Teve o caso de vereador condenado por exploração sexual de crianças que foi reeleito...
-Que orientação a SMM costuma oferecer a brasileiros ou brasileiras que recebem propostas “generosas” de trabalho no exterior?
P.S.–Temos publicações tentando alertar para os perigos de ofertas maravilhosas de emprego ou casamento no exterior. O SMM, juntamente com a Asbrad, uma ONG de Guarulhos, conseguiu que a Superintendência da Polícia Federal de São Paulo colocasse em todos os passaportes emitidos no estado um folder alertando sobre esses perigos. Uma grande vitória que conseguimos é que hoje em dia a Polícia Federal de todo Brasil coloca em cada passaporte emitido no País um folder, não igual, mas que tem a mesma finalidade. A ação de duas ONGs transformou-se em uma política pública de defesa da mulher. Legal, não é?
-Que avaliação você faz da atuação do poder público no governo Lula, no combate desses problemas?
P.S. – Minha avaliação do Lula é dual: em relação à luta pontual contra o tráfico de seres humanos, nunca tivemos tanto apoio. Tanto que o SMM, juntamente com outras ONGs, foi chamado a discutir as políticas de enfrentamento que estão sendo formuladas pelo Ministério da Justiça, Secretaria das Mulheres e Secretaria de Direitos Humanos. Mas no que diz respeito a mandar dinheiro para fora do País, é igualzinho ao FHC... Sua política macroeconômica só está agravando ainda mais a fome, miséria etc., causas básicas do tráfico de seres humanos.
Priscila Siqueira, da ONG Serviço à Mulher Marginalizada
Paulo Lima/ Balaio de Noticias -
As estatísticas são impressionantes. De acordo com a ONU, de 1 a 4 milhões de pessoas são traficadas anualmente no mundo. As maiores vítimas são mulheres jovens e meninas. A atividade criminosa movimenta anualmente cerca de US$ 12 bilhões. Trata-se da terceira atividade ilegal no mundo, só ficando atrás do tráfico de armamento e drogas.
O Brasil responde com cerca de 15% das mulheres que deixam a América Latina para trabalhar em prostíbulos e saunas no mundo inteiro, segundo denúncia apresentada no 1º Seminário Internacional sobre Tráficos de Seres Humanos, ocorrido em 2000, em Brasília.
Há cerca de 75 mil mulheres brasileiras se prostituindo em países da Europa, segundo estatísticas da Fundação Helsinque. O crime tem à sua disposição 131 rotas de tráfico de mulheres, segundo reportagem da Folha.
Para evitar a divulgação desse “cartão postal” pouco lisonjeiro do País, foi criada há 12 anos a ONG Serviço à Mulher Marginalizada (SMM), com sede em São Paulo, que conta com a articulação da jornalista Priscila Siqueira.
Autora do estudo “Tráfico de mulheres – oferta, demanda, impunidade”, Priscila tem participado de encontros e seminários no exterior que procuram discutir o problema. Ano passado esteve na Alemanha e nos Estados Unidos.
A exploração sexual de mulheres, tão presente no Brasil, especialmente no Nordeste, não está na pauta da nossa imprensa da forma que deveria. “Agora, após o governo Lula, quando o assunto deixou de ser tabu, é que a imprensa de nosso País tem dado atenção a essa questão”, diz Priscila.
Mas na imprensa americana o tema tem sido alvo de matérias especiais. Este é o caso, segundo Priscila, das reportagens de Nicholas D. Kristof, do New York Times, que há anos vem denunciando a exploração sexual de mulheres na Ásia. As reportagens de Nicholas,com amplos recursos multimídia, estão disponíveis na versão online do NYT.
Segundo Priscila, apesar de algumas práticas isoladas de combate à exploração sexual já começarem a surgir no Brasil é o Estado que precisa assumir a liderança dessas atitudes. A imprensa poderia ter um papel preponderante nesse processo, “ajudando a conscientizar a sociedade para o fato de que o problema não atinge somente as camadas mais pobres”.
Um dia antes de embarcar para a Noruega, onde foi ajudar numa campanha de conscientização sobre o tráfico de seres humanos, ela concedeu por e-mail a entrevista que se segue.
- Como o combate à exploração sexual comercial de mulheres e crianças, no Brasil, pode ser bem sucedido, enquanto perdurarem as condições de reprodução desse tráfico, como a pobreza, a miséria e níveis baixíssimos de educação?
Priscila Siqueira – Quando analisamos a questão do tráfico de seres humanos, sempre recorremos ao clássico triângulo de três lados iguais, que são a Oferta, a Demanda e a Impunidade. O que provoca a oferta são exatamente as condições econômicas degradantes que atingem milhões de pessoas no mundo como também em nosso País.
Obviamente estas condições econômicas são reforçadas por questões culturais, como o machismo e o patriarcalismo. Só que não podemos ficar à espera de que tais problemas terminem para enfrentarmos o tráfico de seres humanos. A luta é concomitante e dialética.
- Em quais regiões do Brasil a situação é mais alarmante?
P.S. – A pesquisa Pestraf [sobre tráfico de mulheres crianças e adolescentes para fins de exploração comercial no Brasil], de 2002, coordenada pelas pesquisadoras Maria Lúcia Leal e Maria de Fátima Leal, da Universidade de Brasília, mostra que no Nordeste brasileiro, assim como no Centro-Oeste, há um maior número de crianças e mulheres traficadas.
- Onde, no Brasil, vocês têm identificado as melhores práticas de combate a esse tipo de crime?
P.S. – As práticas de luta contra esse crime hediondo começam a aparecer em diversos lugares de nosso País. Por exemplo, o Rio Grande do Norte tem uma tradição de combate ao turismo sexual que não é a mesma coisa que tráfico de seres humanos, mas é uma porta aberta para que mulheres e crianças sejam traficadas. Por outro lado, em diferentes municípios brasileiros, ou o poder público ou a sociedade civil iniciou lutas de enfrentamento ao problema. Mas são atitudes isoladas que precisam ser assumidas num plano mais amplo sob a liderança do próprio Estado brasileiro.
- Na sua opinião, a atuação da imprensa brasileira tem sido satisfatória na denúncia desses problemas?
P.S. - Agora, após o governo Lula, quando o assunto deixou de ser tabu, é que a imprensa de nosso País tem dado atenção a essa questão.
- O que mais poderia ser feito por essa mesma imprensa?
P.S. – Ajudar a conscientizar a população que o tráfico de seres humanos existe e que não é somente uma ameaça às classes mais pobres (daí eu não preciso me preocupar), mas a toda sociedade brasileira.
- Você tem noção da atuação das imprensas americana e européia a respeito dessas questões?
P.S. – O New York Times tem publicado matérias sobre o tráfico principalmente na Ásia, onde o jornalista Nicholas D. Kristof – numa reportagem denúncia – chegou a comprar duas adolescentes com direito a recibo...
- Ano passado você participou na Alemanha de um encontro em que se discutiu o tráfico de mulheres, e esteve presente em reunião na ONU que tratou do tráfico de seres humanos. Que diretrizes foram retiradas desses encontros?
P.S. – Tanto na Alemanha quanto na ONU, nossa luta é mostrar que o tráfico de seres humanos tem relações profundas com a miséria e exploração dos países do terceiro mundo. A rota do tráfico de seres humanos é a rota da grana. As pessoas são presas fáceis do tráfico, pois estão atrás de condições mais dignas de vida. Por outro lado, o tráfico de seres humanos tem de ser encarado como um crime contra os Direitos Humanos, aliás, o pior desrespeito à dignidade humana na atualidade Queremos também trabalhar com a demanda para entendermos melhor o que faz um homem se sentir no direito de usar sexualmente uma criança ou uma mulher em situação de vulnerabilidade.
- A SMM mantém parceria com instituições internacionais? Como funcionam essas parcerias?
P.S. – Nossas parcerias são com agências internacionais (como a Igreja Reformanda da Noruega, a Cordaid e a Miserior), que nos permitem travar esta luta de enfrentamento à exploração sexual comercial de mulheres e crianças.
- E no Brasil, quais são as parcerias estabelecidas?
P.S. – No Brasil nossas parcerias são de trabalho com outras ONGs e movimentos que atuam na área.
- Não é contraditório que no Brasil o poder público tente combater o turismo sexual e, por outro lado, as políticas de incentivo ao turismo estimulem uma visão sensual dos nossos litorais?
P.S. – Essa é uma das nossas lutas – fazer com que se venda a imagem das paisagens brasileiras e não as bundas de nossas mulheres...
- Em sua opinião, a regulamentação da prostituição como profissão poderia inibir as atividades ilícitas em torno dessa atividade?
P.S. – A regulamentação da profissão de prostituta tem de ser discutida amplamente, principalmente com as profissionais do sexo. A formulação da lei tem de ser cuidadosa para não prejudicar ainda mais a mulher traficada, transformando o tráfico de seres humanos em uma atividade legal.
- Qual o ranking ocupado pelo comércio do tráfico de mulheres no mundo? Quanto o tráfico rende anualmente aos criminosos?
P.S. – Segundo a ONU, o tráfico de seres humanos é a terceira atividade ilegal no planeta, perdendo somente para o tráfico de armamentos e drogas, respectivamente. Daria um lucro anual de 12 bilhões de dólares.
- Qual a posição do Brasil nesse cenário?
P.S. – Infelizmente somos o campeão de “exportação” de mulheres e crianças para a indústria da prostituição no primeiro mundo em toda América do Sul.
- Diariamente a imprensa divulga casos de punição de crimes de naturezas diversas, mas pouco é noticiado sobre turismo sexual ou tráfico de pessoas. A lei existente é pouco efetiva a esse respeito?
P.S. – Lembra da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito, coordenada pela senadora Patrícia Saboya Gomes, do PPS, sobre exploração sexual de crianças e adolescentes, na qual vários figurões brasileiros foram implicados? Uma de nossas questões é saber como foram punidos e onde estão agora. Teve o caso de vereador condenado por exploração sexual de crianças que foi reeleito...
-Que orientação a SMM costuma oferecer a brasileiros ou brasileiras que recebem propostas “generosas” de trabalho no exterior?
P.S.–Temos publicações tentando alertar para os perigos de ofertas maravilhosas de emprego ou casamento no exterior. O SMM, juntamente com a Asbrad, uma ONG de Guarulhos, conseguiu que a Superintendência da Polícia Federal de São Paulo colocasse em todos os passaportes emitidos no estado um folder alertando sobre esses perigos. Uma grande vitória que conseguimos é que hoje em dia a Polícia Federal de todo Brasil coloca em cada passaporte emitido no País um folder, não igual, mas que tem a mesma finalidade. A ação de duas ONGs transformou-se em uma política pública de defesa da mulher. Legal, não é?
-Que avaliação você faz da atuação do poder público no governo Lula, no combate desses problemas?
P.S. – Minha avaliação do Lula é dual: em relação à luta pontual contra o tráfico de seres humanos, nunca tivemos tanto apoio. Tanto que o SMM, juntamente com outras ONGs, foi chamado a discutir as políticas de enfrentamento que estão sendo formuladas pelo Ministério da Justiça, Secretaria das Mulheres e Secretaria de Direitos Humanos. Mas no que diz respeito a mandar dinheiro para fora do País, é igualzinho ao FHC... Sua política macroeconômica só está agravando ainda mais a fome, miséria etc., causas básicas do tráfico de seres humanos.
sexta-feira, 25 de março de 2011
Óleo de planta ajuda a recuperar movimentos de vítimas de AVC
Segundo a pesquisa, o óleo ajuda a recuperar músculos de pacientes com AVC
Foto: Vivianne Paixão/Especial para Terra
O óleo essencial da Alpinia speciosa Schum, planta regional do Nordeste conhecida como 'Bastão do Imperador' e muito utilizada na fabricação de colônias para o candomblé, tem ação relaxante que ajuda na recuperação pacientes com o sistema nervoso lesionado por doença vascular encefálica, lesões de medula, paralisia cerebral, traumatismo crânio-encefálico, esclerose múltipla, entre outras enfermidades que atingem a via nervosa.
A descoberta, feita em Sergipe pela fisioterapeuta Edna Aragão Farias Cândido durante a conclusão do doutorado pela Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), já gerou patentes nacional e internacional.
Edna Aragão, que desenvolveu pesquisas no Centro de Fisioterapia da Universidade Tiradentes, em Aracaju (SE), avaliou quase mil grupos musculares e acompanhou 75 pacientes. Todos recobraram os movimentos. O caso mais significativo é o do lutador de jiu-jitsu sergipano João Alberto Alves, 31 anos.
Em 2007, Alves sofreu um acidente vascular encefálico após cirurgia para retirada da glândula tireoide. "Eu era independente e, de uma hora para outra, me vi precisando de ajuda para fazer tudo. Foi muito difícil", afirma o lutador que sequer levantava da cama, mas hoje usa o andador com facilidade e faz exercícios físicos.
Em uma situação patológica, por falta de controle do sistema nervoso central, os impulsos nervosos vindos da medula para o músculo ficam acentuados, causando espasticidade (espasmos) e, ao mesmo tempo, paralisia muscular. Em sua tese, a pesquisadora mostrou que o óleo atua nos canais de cálcio, responsáveis pela contração muscular. O excesso de cálcio promove a tensão do músculo. Sua normalização permite que o músculo contraia e relaxe normalmente, o que gera energia para novos movimentos.
Patentes
A pesquisa desenvolvida em Sergipe despertou o interesse da Hebron, fabricante de fitoterápicos com s ede em Recife (PE) e relações comerciais em países como Estados Unidos, Cuba, África do Sul, Portugal e Áustria. A empresa cultivou a planta, forneceu matéria-prima para o tratamento dos pacientes sergipanos e financiou equipamentos para a avaliação dos resultados.
Foram investidos cerca de R$ 30 mil que renderam patentes nacional e internacional à empresa pernambucana e ao Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), centro de laboratórios instalado em Aracaju, onde Edna Aragão realizou os estudos sobre a ação da Alpinia.
O próximo passo da Hebron e do ITP é conseguir autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para industrializar e comercializar o óleo essencial. A expectativa é que isso aconteça em 2012.
Foto: Vivianne Paixão/Especial para Terra
O óleo essencial da Alpinia speciosa Schum, planta regional do Nordeste conhecida como 'Bastão do Imperador' e muito utilizada na fabricação de colônias para o candomblé, tem ação relaxante que ajuda na recuperação pacientes com o sistema nervoso lesionado por doença vascular encefálica, lesões de medula, paralisia cerebral, traumatismo crânio-encefálico, esclerose múltipla, entre outras enfermidades que atingem a via nervosa.
A descoberta, feita em Sergipe pela fisioterapeuta Edna Aragão Farias Cândido durante a conclusão do doutorado pela Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), já gerou patentes nacional e internacional.
Edna Aragão, que desenvolveu pesquisas no Centro de Fisioterapia da Universidade Tiradentes, em Aracaju (SE), avaliou quase mil grupos musculares e acompanhou 75 pacientes. Todos recobraram os movimentos. O caso mais significativo é o do lutador de jiu-jitsu sergipano João Alberto Alves, 31 anos.
Em 2007, Alves sofreu um acidente vascular encefálico após cirurgia para retirada da glândula tireoide. "Eu era independente e, de uma hora para outra, me vi precisando de ajuda para fazer tudo. Foi muito difícil", afirma o lutador que sequer levantava da cama, mas hoje usa o andador com facilidade e faz exercícios físicos.
Em uma situação patológica, por falta de controle do sistema nervoso central, os impulsos nervosos vindos da medula para o músculo ficam acentuados, causando espasticidade (espasmos) e, ao mesmo tempo, paralisia muscular. Em sua tese, a pesquisadora mostrou que o óleo atua nos canais de cálcio, responsáveis pela contração muscular. O excesso de cálcio promove a tensão do músculo. Sua normalização permite que o músculo contraia e relaxe normalmente, o que gera energia para novos movimentos.
Patentes
A pesquisa desenvolvida em Sergipe despertou o interesse da Hebron, fabricante de fitoterápicos com s ede em Recife (PE) e relações comerciais em países como Estados Unidos, Cuba, África do Sul, Portugal e Áustria. A empresa cultivou a planta, forneceu matéria-prima para o tratamento dos pacientes sergipanos e financiou equipamentos para a avaliação dos resultados.
Foram investidos cerca de R$ 30 mil que renderam patentes nacional e internacional à empresa pernambucana e ao Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), centro de laboratórios instalado em Aracaju, onde Edna Aragão realizou os estudos sobre a ação da Alpinia.
O próximo passo da Hebron e do ITP é conseguir autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para industrializar e comercializar o óleo essencial. A expectativa é que isso aconteça em 2012.
quinta-feira, 24 de março de 2011
ANÚNCIO PARA ARRUMAR NAMORADA
UM JORNAL CEARENSE RECEBEU ESSE PEDIDO DE PUBLICAÇÃO DE ANUNCIO E, ACHANDO-O ENGRAÇADO, PEDIU AUTORIZAÇÃO PARA COLOCA-LO EM LOCAL DE DESTAQUE, SEM QUALQUER ACRESCIMO DE CUSTO. AFINAL, ERA COMICO. NÃO ESPERAVAM RESPOSTA. MAS... HOUVE A RESPOSTA... E, DA MESMA FORMA QUE O ANUNCIO INICIAL, RECEBEU LOCAL DE DESTAQUE EM SUA PUBLICAÇÃO.
Homem descasado procura...
Homem de 40 anos, que só gosta de mulher, após casamento de sete anos, mal sucedido afetivamente, vem através deste anúncio, procurar mulher que só goste de homem, para compromisso duradouro, desde que esta preencha certos requisitos:
O PRETENDIDO exige que a PRENTENDENTE tenha idade entre 28 e 40 anos, não descartando, evidentemente, aquelas de idade abaixo do limite inferior, descartando as acima do limite superior.
Devem ter um grau razoável de escolaridade, para que não digam, na frente de estranhos: 'menas vezes', 'quando eu si casar', 'pobrema no úter', 'eu já si operei de apênis', 'é de grátis', 'vamo de a pé', 'adoro tar com você' e outras pérolas gramaticais.
Os olhos podem ter qualquer cor, desde que sejam da mesma e olhem para uma só direção.
Os dentes, além de extremamente brancos, todos os 32, devem permanecer na boca ao deitar e nunca dormirem mergulhados num copo d'água.
Os seios devem ser firmes, do tamanho de um mamão papaia, cujos mamilos olhem sempre para o céu, quando muito para o purgatório, nunca para o inferno.
Devem ter consistência tal que não escapem pelos dedos, como massa de pão.
Por motivos óbvios, a boca e os lábios, devem ter consistência macia, não confundir com beiço.
A barriga, se existir, muito pequena e discreta, e não um ponto de referência.
O PRETENDIDO exige que a PRETENDENTE seja sexualmente normal, isto é, tenha orgasmos, se múltiplos melhor, mas mesmo que eventuais, quando acontecerem, que ela gema um pouco ou pisque os olhos, para que ele sinta-se sexualmente interessante. Independentemente da experiência sexual do PRETENDIDO, este exige que durante o ato sexual a PRETENDENTE não boceje, não ria, não fique vendo as horas no rádio relógio, não durma ou cochile.
O PRETENDIDO exige que a PRETENDENTE não tenha feito nenhuma sessão de análise, o que poderia camuflar, por algum tempo, uma eventual esquizofrenia.
A PRETENDENTE deverá ter um carro que ande, nem que seja uma Brasília, ou que tenha dinheiro para o táxi, uma vez que pela própria idade do PRETENDIDO, ele não tem mais paciência para levar namorada de madrugada para casa.
Enviar cartas com foto recente, de corpo inteiro, frente e costas, da PRETENDENTE, para a redação deste jornal, para o codinome:
'CACHORRO MORDIDO DE COBRA TEM MEDO ATÉ DE BARBANTE'.
Resposta da Pretendente, publicada dias após, no mesmo periódico Cearense :
Prezado HOMEM DESCASADO...
Li seu anúncio no jornal e manifesto meu interesse em manter um compromisso duradouro com o senhor, desde que (é claro) o senhor também preencha outros 'certos' requisitos que considero básicos! Vale lembrar que tais exigências se baseiam em conclusões tiradas acerca do comportamento masculino em diversas relações frustradas, que só não deixaram marcas profundas em minha personalidade, porque 'graças a Deus', fiz anos de terapia, o que infelizmente contraria uma de suas exigências!
Quanto à idade convém ressaltar que espero que o senhor tenha a maturidade dos 40 anos e o vigor dos 28, e que seu grau de escolaridade supere a cultura que porventura tenha adquirido assistindo aos programas do 'Show do Milhão'...!
Seus olhos podem ser de qualquer cor desde que vejam algo além de jogos de futebol e revistas de mulher pelada. E seus dentes devem sorrir mesmo quando lhe for solicitado que lave a louça ou arrume a cama. Não é necessário que seus músculos tenham sido esculpidos pelo halterofilismo, mas que seus braços sejam fortes o suficiente para carregar as compras. Quanto à boca, por motivos também óbvios, além de cumprir com eficiência as funções a que se destinam, as bocas no relacionamento de um casal devem servir, inclusive, para pronunciar palavras doces e gentis e não somente: 'PEGA MAIS UMA CERVEJA AÍ, MULHER!'. A barriga, que é quase certo que o senhor a tenha, é tolerável, desde que não atrapalhe para abaixar ao pegar as cuecas e meias que jamais deverão ficar no chão. Quanto ao desempenho sexual espera-se que corresponda ao menos polidamente à 'performance' daquilo que o senhor 'diz que faz' aos seus amigos! E que durante o ato sexual, não precise levar para a cama livros do tipo: 'Manual do corpo humano' ou 'Mulher, esse ser estranho'!
No que diz respeito ao ítem alimentação, cumpre estar atualizado com a lista dos melhores restaurantes, ser um bom conhecedor de vinhos e toda espécie de iguarias, além de bancar as contas, evidentemente. Em relação ao carro, tornam-se desnecessário s os trajetos durante a madrugada, uma vez que, havendo correspondência nas exigências que por ora faço, pretendo mudar-me de mala e cuia para a sua casa ... meu amor!!!
ass: A COBRA
Homem descasado procura...
Homem de 40 anos, que só gosta de mulher, após casamento de sete anos, mal sucedido afetivamente, vem através deste anúncio, procurar mulher que só goste de homem, para compromisso duradouro, desde que esta preencha certos requisitos:
O PRETENDIDO exige que a PRENTENDENTE tenha idade entre 28 e 40 anos, não descartando, evidentemente, aquelas de idade abaixo do limite inferior, descartando as acima do limite superior.
Devem ter um grau razoável de escolaridade, para que não digam, na frente de estranhos: 'menas vezes', 'quando eu si casar', 'pobrema no úter', 'eu já si operei de apênis', 'é de grátis', 'vamo de a pé', 'adoro tar com você' e outras pérolas gramaticais.
Os olhos podem ter qualquer cor, desde que sejam da mesma e olhem para uma só direção.
Os dentes, além de extremamente brancos, todos os 32, devem permanecer na boca ao deitar e nunca dormirem mergulhados num copo d'água.
Os seios devem ser firmes, do tamanho de um mamão papaia, cujos mamilos olhem sempre para o céu, quando muito para o purgatório, nunca para o inferno.
Devem ter consistência tal que não escapem pelos dedos, como massa de pão.
Por motivos óbvios, a boca e os lábios, devem ter consistência macia, não confundir com beiço.
A barriga, se existir, muito pequena e discreta, e não um ponto de referência.
O PRETENDIDO exige que a PRETENDENTE seja sexualmente normal, isto é, tenha orgasmos, se múltiplos melhor, mas mesmo que eventuais, quando acontecerem, que ela gema um pouco ou pisque os olhos, para que ele sinta-se sexualmente interessante. Independentemente da experiência sexual do PRETENDIDO, este exige que durante o ato sexual a PRETENDENTE não boceje, não ria, não fique vendo as horas no rádio relógio, não durma ou cochile.
O PRETENDIDO exige que a PRETENDENTE não tenha feito nenhuma sessão de análise, o que poderia camuflar, por algum tempo, uma eventual esquizofrenia.
A PRETENDENTE deverá ter um carro que ande, nem que seja uma Brasília, ou que tenha dinheiro para o táxi, uma vez que pela própria idade do PRETENDIDO, ele não tem mais paciência para levar namorada de madrugada para casa.
Enviar cartas com foto recente, de corpo inteiro, frente e costas, da PRETENDENTE, para a redação deste jornal, para o codinome:
'CACHORRO MORDIDO DE COBRA TEM MEDO ATÉ DE BARBANTE'.
Resposta da Pretendente, publicada dias após, no mesmo periódico Cearense :
Prezado HOMEM DESCASADO...
Li seu anúncio no jornal e manifesto meu interesse em manter um compromisso duradouro com o senhor, desde que (é claro) o senhor também preencha outros 'certos' requisitos que considero básicos! Vale lembrar que tais exigências se baseiam em conclusões tiradas acerca do comportamento masculino em diversas relações frustradas, que só não deixaram marcas profundas em minha personalidade, porque 'graças a Deus', fiz anos de terapia, o que infelizmente contraria uma de suas exigências!
Quanto à idade convém ressaltar que espero que o senhor tenha a maturidade dos 40 anos e o vigor dos 28, e que seu grau de escolaridade supere a cultura que porventura tenha adquirido assistindo aos programas do 'Show do Milhão'...!
Seus olhos podem ser de qualquer cor desde que vejam algo além de jogos de futebol e revistas de mulher pelada. E seus dentes devem sorrir mesmo quando lhe for solicitado que lave a louça ou arrume a cama. Não é necessário que seus músculos tenham sido esculpidos pelo halterofilismo, mas que seus braços sejam fortes o suficiente para carregar as compras. Quanto à boca, por motivos também óbvios, além de cumprir com eficiência as funções a que se destinam, as bocas no relacionamento de um casal devem servir, inclusive, para pronunciar palavras doces e gentis e não somente: 'PEGA MAIS UMA CERVEJA AÍ, MULHER!'. A barriga, que é quase certo que o senhor a tenha, é tolerável, desde que não atrapalhe para abaixar ao pegar as cuecas e meias que jamais deverão ficar no chão. Quanto ao desempenho sexual espera-se que corresponda ao menos polidamente à 'performance' daquilo que o senhor 'diz que faz' aos seus amigos! E que durante o ato sexual, não precise levar para a cama livros do tipo: 'Manual do corpo humano' ou 'Mulher, esse ser estranho'!
No que diz respeito ao ítem alimentação, cumpre estar atualizado com a lista dos melhores restaurantes, ser um bom conhecedor de vinhos e toda espécie de iguarias, além de bancar as contas, evidentemente. Em relação ao carro, tornam-se desnecessário s os trajetos durante a madrugada, uma vez que, havendo correspondência nas exigências que por ora faço, pretendo mudar-me de mala e cuia para a sua casa ... meu amor!!!
ass: A COBRA
sexta-feira, 18 de março de 2011
CONVITE
O Movimento Ubatuba em Rede, cujo objetivo é democratizar informação melhorar a articulação e viabilizar ações e projetos, que proporcionem a melhoria de qualidade de vida em Ubatuba, convida a todos para o debate MULHERES QUE FAZEM em comemoração ao Dia da Mulher.
LOCAL: Câmara Municipal, dia 21/03 às 19 h.
O debate foi adiado em função do feriado de Carnaval e também para manter a terceira segunda feira de cada mês como o dia de realização da série ENCONTROS COM A COMUNIDADE.
Neste encontro debateremos as políticas públicas relacionadas às mulheres, aos idosos e deficientes. Para abordar esses temas, a mesa será composta pelas seguintes mulheres:
DAMIANA SOARES PEREIRA, presidente da ADUBA – Associação dos Deficientes de Ubatuba.
YARA CAMARGO – batalhadora para a criação do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência de Ubatuba
AMELIA NAOMI – vereadora em São José dos Campos
ZENAIDE DE OLIVEIRA BRITO – advogada, coordenadora do Projeto Promotoras Legais Populares de Taubaté, com larga experiência na área de direitos humanos.
MARIA DA GLORIA ABDO – Presidente da ABAESP – Associação dos Bancários Aposentados do Estado de São Paulo
SILMARA RETTI – Escritora e militante da prevenção à AIDS e às DSTs.
segunda-feira, 14 de março de 2011
A revolução feminista no Oriente Médio
O papel das mulheres no grande levante do Oriente Médio tem sido muito pouco analisado. As mulheres do Egito não só “se somam” aos protestos, mas tem sido uma força destacada da evolução cultural que as tornou indispensáveis. E o que vale para o caso do Egito, pode se dizer também, em maior ou menor medida, para todo o mundo árabe. Quando as mulheres mudam, tudo muda; e as mulheres do mundo muçulmano estão mudando radicalmente. O artigo é de Naomi Wolf.
Naomi Wolf - Al Jazeera
Entre os estereótipos dos países muçulmanos mais habituais no Ocidente encontram-se os relativos às mulheres muçulmanas: crédulas, cobertas com véus, submissas, exóticas e caladas, integrantes de haréns imaginários e encerradas em papéis de gênero muito rígidos. E então, onde estavam essas mulheres na Tunísia e no Egito.
Em ambos os países as manifestantes não se pareciam absolutamente com esse estereótipo ocidental: estava na primeira linha da luta e no centro, nas imagens das notícias e nos fóruns do Facebook, inclusive assumindo a liderança. Na praça Tahrir, no Egito, mulheres acompanhadas, algumas acompanhadas de crianças, trabalhavam sem descanso para apoiar os protestos, contribuindo em atividades de segurança, comunicações ou abrigo. Muitos comentaristas atribuíam o grande número de mulheres e crianças ao caráter pacífico dos manifestantes em geral diante de graves provocações.
Outros repórteres-cidadãos da Praça Tahrir – e praticamente qualquer um que tivesse um telefonema celular poderia sê-lo – assinalavam que as massas de mulheres implicadas nos protestos eram muito diversas do ponto de vista demográfico. Muitas levavam lenços na cabeça e outros sinais de conservadorismo religioso, enquanto outras se deleitavam com a liberdade de beijar um amigo ou fumar um cigarro em público.
Participantes, líderes
Mas as mulheres não só atuavam como trabalhadoras de apoio, o papel habitual a que ficam relegadas nos movimentos de protesto, desde os da década de 1960 até os recentes distúrbios estudantis no Reino Unido. As mulheres egípcias também organizavam, formulavam estratégias e informavam dos acontecimentos. Autoras de blogs como Leil Zahra Mortada assumiram graves riscos para manter o mundo informado diariamente sobre a situação na praça Tahrir e outros lugares.
O papel das mulheres no grande levante do Oriente Médio tem sido muito pouco analisado. As mulheres do Egito não só “se somam” aos protestos, mas tem sido uma força destacada da evolução cultural que as tornou indispensáveis. E o que vale para o caso do Egito, pode se dizer também, em maior ou menor medida, para todo o mundo árabe. Quando as mulheres mudam, tudo muda; e as mulheres do mundo muçulmano estão mudando radicalmente.
A transformação mais importante é educativa. Há duas gerações, somente uma reduzida minoria das filhas da elite recebia formação universitária. Hoje, as mulheres representam mais da metade do número de estudantes nas universidades egípcias. Elas estão se formando para exercer o poder de um modo que suas avós mal poderia imaginar: publicar jornais, como fez Sanaa el Seif desafiando um decreto governamental que exigia a interrupção da atividade; aspirando postos de liderança estudantil; arrecadando fundos para organizações de estudantes ou dirigindo reuniões.
De fato, uma minoria substancial de mulheres jovens do Egito e de outros países árabes passaram seus anos de formação refletindo criticamente em contextos mistos e questionando em público inclusive a professores homens nas aulas. É muito mais fácil tiranizar uma população quando a metade tem uma péssima educação e é trinada para a submissão. Mas, como os ocidentais deveriam saber por sua própria experiência histórica, quando se educa as mulheres é provável que agitação democrática acompanhe a transformação cultural generalizada que se produz.
A natureza dos meios de comunicação social também contribuiu para converter as mulheres em líderes do protesto. Por ter me dedicado durante mais de uma década a ensinar técnicas de liderança para mulheres, sei o quanto difícil é conseguir que se coloquem em pé e tomem a palavra em uma estrutura organizativa hierárquica. Deste modo, as mulheres costumam evitar a figura padrão que, no passado, os protestos tradicionais impuseram a determinados ativistas: quase sempre, a de um jovem exaltado com um megafone na mão.
Projeção de poder
Em semelhantes contextos – um cenário, um foco e um porta-voz – as mulheres evitam os papéis de liderança. Mas os meios de comunicação social, pela própria natureza da tecnologia, modificaram o aspecto e a aparência da liderança atual. O Facebook imita o modo pelo qual muitas mulheres preferem viver a realidade social, onde as relações entre as pessoas são tão importantes quanto o predomínio ou o controle individual, se não mais.
Pode-se ser um líder poderoso no Facebook justamente forjando uma “primeira pessoa do plural” realmente fabulosa. Ou pode-se conservar o mesmo tamanho, conceitualmente, que qualquer outra pessoa em sua página; não é necessário reafirmar o domínio ou a autoridade. A estrutura da interface do Facebook cria o que – em que pese 30 anos de pressão feminista – as instituições de cimento e tijolo não conseguiram gerar: um contexto no qual a capacidade das mulheres para forjar um “nós” poderoso e envolver-se na liderança a serviço dos demais possa promover a causa da liberdade e da justiça em todo o mundo.
Logicamente, o Facebook não pode reduzir os riscos dos protestos. Mas, por mais violento que possa ser o futuro no Oriente Médio, o registro histórico do que ocorre quando as mulheres que receberam educação participam de movimentos libertadores faz pensar que chegou ao fim a era daqueles que gostariam de manter um regime de punho de ferro na região.
Quando a França iniciou sua revolução em 1789, Mary Wollstonecraft, que foi testemunha inesperada dela, escreveu seu manifesto em favor da libertação das mulheres. Depois que as mulheres norte-americanas, que tinham recebido educação, contribuíram para a luta pela abolição da escravidão, elas introduziram na agenda o sufrágio feminino. Depois que disseram na década de 1960 que a “única posição para as mulheres é a horizontal”, criaram o feminismo de “segunda geração”: um movimento nascido das novas habilidades e das velhas frustrações das mulheres.
Uma e outra vez, quando as mulheres travaram as demais batalhas de seu tempo pela liberdade, passaram a defender seus próprios direitos. E como o feminismo é uma prolongação lógica da democracia, os déspotas do Oriente Médio enfrentam uma situação na qual será quase impossível obrigar a estas mulheres que despertaram a deter a luta pela liberdade, a sua própria luta e a de suas comunidades.
(*) Naomi Wolf é ativista política e crítica social; seu livro mais recente é “Give Me Liberty: A Handbook for American Revolutionaries”.
Tradução: Katarina Peixoto
Naomi Wolf - Al Jazeera
Entre os estereótipos dos países muçulmanos mais habituais no Ocidente encontram-se os relativos às mulheres muçulmanas: crédulas, cobertas com véus, submissas, exóticas e caladas, integrantes de haréns imaginários e encerradas em papéis de gênero muito rígidos. E então, onde estavam essas mulheres na Tunísia e no Egito.
Em ambos os países as manifestantes não se pareciam absolutamente com esse estereótipo ocidental: estava na primeira linha da luta e no centro, nas imagens das notícias e nos fóruns do Facebook, inclusive assumindo a liderança. Na praça Tahrir, no Egito, mulheres acompanhadas, algumas acompanhadas de crianças, trabalhavam sem descanso para apoiar os protestos, contribuindo em atividades de segurança, comunicações ou abrigo. Muitos comentaristas atribuíam o grande número de mulheres e crianças ao caráter pacífico dos manifestantes em geral diante de graves provocações.
Outros repórteres-cidadãos da Praça Tahrir – e praticamente qualquer um que tivesse um telefonema celular poderia sê-lo – assinalavam que as massas de mulheres implicadas nos protestos eram muito diversas do ponto de vista demográfico. Muitas levavam lenços na cabeça e outros sinais de conservadorismo religioso, enquanto outras se deleitavam com a liberdade de beijar um amigo ou fumar um cigarro em público.
Participantes, líderes
Mas as mulheres não só atuavam como trabalhadoras de apoio, o papel habitual a que ficam relegadas nos movimentos de protesto, desde os da década de 1960 até os recentes distúrbios estudantis no Reino Unido. As mulheres egípcias também organizavam, formulavam estratégias e informavam dos acontecimentos. Autoras de blogs como Leil Zahra Mortada assumiram graves riscos para manter o mundo informado diariamente sobre a situação na praça Tahrir e outros lugares.
O papel das mulheres no grande levante do Oriente Médio tem sido muito pouco analisado. As mulheres do Egito não só “se somam” aos protestos, mas tem sido uma força destacada da evolução cultural que as tornou indispensáveis. E o que vale para o caso do Egito, pode se dizer também, em maior ou menor medida, para todo o mundo árabe. Quando as mulheres mudam, tudo muda; e as mulheres do mundo muçulmano estão mudando radicalmente.
A transformação mais importante é educativa. Há duas gerações, somente uma reduzida minoria das filhas da elite recebia formação universitária. Hoje, as mulheres representam mais da metade do número de estudantes nas universidades egípcias. Elas estão se formando para exercer o poder de um modo que suas avós mal poderia imaginar: publicar jornais, como fez Sanaa el Seif desafiando um decreto governamental que exigia a interrupção da atividade; aspirando postos de liderança estudantil; arrecadando fundos para organizações de estudantes ou dirigindo reuniões.
De fato, uma minoria substancial de mulheres jovens do Egito e de outros países árabes passaram seus anos de formação refletindo criticamente em contextos mistos e questionando em público inclusive a professores homens nas aulas. É muito mais fácil tiranizar uma população quando a metade tem uma péssima educação e é trinada para a submissão. Mas, como os ocidentais deveriam saber por sua própria experiência histórica, quando se educa as mulheres é provável que agitação democrática acompanhe a transformação cultural generalizada que se produz.
A natureza dos meios de comunicação social também contribuiu para converter as mulheres em líderes do protesto. Por ter me dedicado durante mais de uma década a ensinar técnicas de liderança para mulheres, sei o quanto difícil é conseguir que se coloquem em pé e tomem a palavra em uma estrutura organizativa hierárquica. Deste modo, as mulheres costumam evitar a figura padrão que, no passado, os protestos tradicionais impuseram a determinados ativistas: quase sempre, a de um jovem exaltado com um megafone na mão.
Projeção de poder
Em semelhantes contextos – um cenário, um foco e um porta-voz – as mulheres evitam os papéis de liderança. Mas os meios de comunicação social, pela própria natureza da tecnologia, modificaram o aspecto e a aparência da liderança atual. O Facebook imita o modo pelo qual muitas mulheres preferem viver a realidade social, onde as relações entre as pessoas são tão importantes quanto o predomínio ou o controle individual, se não mais.
Pode-se ser um líder poderoso no Facebook justamente forjando uma “primeira pessoa do plural” realmente fabulosa. Ou pode-se conservar o mesmo tamanho, conceitualmente, que qualquer outra pessoa em sua página; não é necessário reafirmar o domínio ou a autoridade. A estrutura da interface do Facebook cria o que – em que pese 30 anos de pressão feminista – as instituições de cimento e tijolo não conseguiram gerar: um contexto no qual a capacidade das mulheres para forjar um “nós” poderoso e envolver-se na liderança a serviço dos demais possa promover a causa da liberdade e da justiça em todo o mundo.
Logicamente, o Facebook não pode reduzir os riscos dos protestos. Mas, por mais violento que possa ser o futuro no Oriente Médio, o registro histórico do que ocorre quando as mulheres que receberam educação participam de movimentos libertadores faz pensar que chegou ao fim a era daqueles que gostariam de manter um regime de punho de ferro na região.
Quando a França iniciou sua revolução em 1789, Mary Wollstonecraft, que foi testemunha inesperada dela, escreveu seu manifesto em favor da libertação das mulheres. Depois que as mulheres norte-americanas, que tinham recebido educação, contribuíram para a luta pela abolição da escravidão, elas introduziram na agenda o sufrágio feminino. Depois que disseram na década de 1960 que a “única posição para as mulheres é a horizontal”, criaram o feminismo de “segunda geração”: um movimento nascido das novas habilidades e das velhas frustrações das mulheres.
Uma e outra vez, quando as mulheres travaram as demais batalhas de seu tempo pela liberdade, passaram a defender seus próprios direitos. E como o feminismo é uma prolongação lógica da democracia, os déspotas do Oriente Médio enfrentam uma situação na qual será quase impossível obrigar a estas mulheres que despertaram a deter a luta pela liberdade, a sua própria luta e a de suas comunidades.
(*) Naomi Wolf é ativista política e crítica social; seu livro mais recente é “Give Me Liberty: A Handbook for American Revolutionaries”.
Tradução: Katarina Peixoto
domingo, 13 de março de 2011
FALTAM VAGAS NAS ESCOLAS NOS EUA.Desordem financeira: as vítimas do livre mercado
No programa 60 Minutos, domingo passado, a principal reportagem tratava sobre o massivo aumento do número de estudantes sem vaga nas escolas públicas dos Estados Unidos. Em um dos condados da Flórida, esse número está aumentando de 15 a 30 alunos por dia. Mas em sua maior parte, os principais meios de comunicação mantem-se distantes, o mais longe possível, destas histórias sobre a nova onda de insensibilidade nos Estados Unidos.
Preferem se concentrar no preço da gasolina. A instabilidade na Líbia impulsiona a instabilidade em Wisconsin e naqueles Estados onde os governantes locais estão se mostrando incapazes de enfrentar as cargas de endividamento, tema que não frequenta as manchetes sobre temas da atualidade. Mas até quando? Quanto tempo levará para que nossos cristãos evangélicos respondam essas perguntas? Em que lugar da Bíblia estabelece-se o dogma de ter governos pequenos e limitados? Onde está escrito que é preciso baixar os impostos de especuladores financeiros?
Fonte: http://www.counterpunch.org/farago03082011.html
Alan Farago – CounterPunch
Preferem se concentrar no preço da gasolina. A instabilidade na Líbia impulsiona a instabilidade em Wisconsin e naqueles Estados onde os governantes locais estão se mostrando incapazes de enfrentar as cargas de endividamento, tema que não frequenta as manchetes sobre temas da atualidade. Mas até quando? Quanto tempo levará para que nossos cristãos evangélicos respondam essas perguntas? Em que lugar da Bíblia estabelece-se o dogma de ter governos pequenos e limitados? Onde está escrito que é preciso baixar os impostos de especuladores financeiros?
Fonte: http://www.counterpunch.org/farago03082011.html
Alan Farago – CounterPunch
SOLDADO SOFRE TORTURA NOS EUA
Vergonhosa violência contra Bradley Manning
By admin– 12/03/2011
Por Daniel Ellsberg, The Guardian, UK | Tradução Coletivo Vila Vudu
O presidente Obama diz que pediu informações ao Pentágono sobre as condições do confinamento de Bradley Manning – o soldado acusado de haver vazado segredos de Estado. – “Fui informado de que sim, as condições são apropriadas e conforme nossos padrões básicos. Garantiram-me que são.”
Se Obama acredita nisso, acreditará em qualquer coisa. Seria de esperar que fizesse mais e melhor do que perguntar aos criminosos se estão agindo como devem agir. Posso até ouvir a voz do presidente Nixon, dizendo à imprensa: “Os empregados da manutenção dos encanamentos da Casa Branca que assaltaram o escritório do Dr. Daniel Ellsberg em Los Angeles informaram-me que seus atos são apropriados e conforme nossos padrões básicos.”
Quando afinal se comprovou que o assalto ao meu escritório fora ordenado diretamente pelo Salão Oval, Nixon, para não sofrer um impeachment, teve de renunciar. Sim, os tempos são outros.
Bradley Manning
Mas, se o presidente Obama realmente desconhece as reais condições da prisão de Manning – se realmente acredita, como disse, que “parte dos procedimentos adotados [ser mantido nu, em isolamento, impedido de dormir, sob iluminação direta e sob vigilância de câmeras 24 horas por dia] têm a ver com preservar a integridade física do prisioneiro”, apesar do laudo do psicólogo da prisão, que diz exatamente o contrário –, então, estão mentindo ao presidente, e é preciso que o presidente retome as rédeas do próprio governo.
Se sabe e aprova os procedimentos inadequados e, mesmo, ilegais, então, é sinal de que já esqueceu tudo o que ensinava em suas aulas de Direito Constitucional.
O presidente recusou-se a comentar o que disse PJ Crowley, para quem o tratamento dado ao soldado Manning é “ridículo, contraproducente, estúpido”. São palavras verdadeiras e, provavelmente, são o máximo a que se pode atrever o porta-voz do Departamento de Estado, comentando ações do Departamento da Defesa. Mas faltam aí mais dois adjetivos: abusivo e ilegal.
Crowley respondia a uma pergunta sobre “tortura” de cidadão norte-americano, e, pelo que se sabe, não protestou contra esse modo de por as coisas. Isolamento prolongado, privação de sono, nudez – são procedimento aprendidos diretamente do manual da CIA para “interrogatório estimulado” [ing. “enhanced interrogation”]. Já vimos os mesmos procedimentos aplicados em Guantánamo e Abu Ghraib. Trata-se do que a CIA chama de “tortura sem contato” [ing. "no-touch torture"], e o objetivo, como no caso do soldado Manning, é claro: desmoralizar alguém a ponto de alguém agradecer quando lhe oferecerem a oportunidade de “confessar” qualquer coisa, onde o torturador precise de determinada ‘confissão’. É exatamente o caso, como suspeito, com Manning. A ninguém preocupa que a confissão seja falsa ou verdadeira, desde que implique WikiLeaks, de qualquer modo que ajude o Departamento de Defesa a acusar e processar Julian Assange.
São desconfianças minhas, sobre os motivos pelos quais fazem o que fazem, mas nada disso altera a ilegalidade dos procedimentos dos soldados que mantém preso o soldado Manning. Se eu estiver certo, o tratamento ilegal imposto ao prisioneiro não foi ordenado no plano do oficial encarregado nem do comandante da prisão. O fato de que os maus tratos, o tratamento ilegal e os sofrimentos infligidos ao prisioneiro continuem, apesar de, há semanas, o Conselho Militar do Exército dos EUA encarregado da defesa de Manning ter publicamente protestado e de os procedimentos já terem sido condenados também por organizações como a Anistia Internacional, sugere que a ordem para torturar pode ter vindo “de cima”, dos altos escalões do Departamento de Defesa e do Departamento de Justiça – ou, mesmo, da própria Casa Branca.
Não é coincidência que alguém do Departamento de Estado esteja hoje na imprensa, autor de comentário que pode ser apresentado como ‘desabafo pessoal’, denunciando também – quem denuncia é o porta-voz do Departamento de Estado! – a tortura do soldado Manning. Quando o braço armado do governo dos EUA zomba do dever de respeitar a lei – especificamente do dever de os EUA não torturarem prisioneiros – os piores efeitos recaem sobre o Departamento de Estado, e afetam a própria imagem dos EUA em todo o mundo.
O fato de que Manning esteja sendo torturado em Quantico – onde fiz meu curso básico de formação de oficial da Marinha, durante nove meses – e de que haja Marines que mentem ao mundo sobre a prisão do soldado Manning, faz-se sentir vergonha por toda a corporação. Bastaram-me três meses como oficial de infantaria, para saber que o que está acontecendo em Quantico é ilegal. Tem de ser contido. Tem de ser disciplinado.
By admin– 12/03/2011
Por Daniel Ellsberg, The Guardian, UK | Tradução Coletivo Vila Vudu
O presidente Obama diz que pediu informações ao Pentágono sobre as condições do confinamento de Bradley Manning – o soldado acusado de haver vazado segredos de Estado. – “Fui informado de que sim, as condições são apropriadas e conforme nossos padrões básicos. Garantiram-me que são.”
Se Obama acredita nisso, acreditará em qualquer coisa. Seria de esperar que fizesse mais e melhor do que perguntar aos criminosos se estão agindo como devem agir. Posso até ouvir a voz do presidente Nixon, dizendo à imprensa: “Os empregados da manutenção dos encanamentos da Casa Branca que assaltaram o escritório do Dr. Daniel Ellsberg em Los Angeles informaram-me que seus atos são apropriados e conforme nossos padrões básicos.”
Quando afinal se comprovou que o assalto ao meu escritório fora ordenado diretamente pelo Salão Oval, Nixon, para não sofrer um impeachment, teve de renunciar. Sim, os tempos são outros.
Bradley Manning
Mas, se o presidente Obama realmente desconhece as reais condições da prisão de Manning – se realmente acredita, como disse, que “parte dos procedimentos adotados [ser mantido nu, em isolamento, impedido de dormir, sob iluminação direta e sob vigilância de câmeras 24 horas por dia] têm a ver com preservar a integridade física do prisioneiro”, apesar do laudo do psicólogo da prisão, que diz exatamente o contrário –, então, estão mentindo ao presidente, e é preciso que o presidente retome as rédeas do próprio governo.
Se sabe e aprova os procedimentos inadequados e, mesmo, ilegais, então, é sinal de que já esqueceu tudo o que ensinava em suas aulas de Direito Constitucional.
O presidente recusou-se a comentar o que disse PJ Crowley, para quem o tratamento dado ao soldado Manning é “ridículo, contraproducente, estúpido”. São palavras verdadeiras e, provavelmente, são o máximo a que se pode atrever o porta-voz do Departamento de Estado, comentando ações do Departamento da Defesa. Mas faltam aí mais dois adjetivos: abusivo e ilegal.
Crowley respondia a uma pergunta sobre “tortura” de cidadão norte-americano, e, pelo que se sabe, não protestou contra esse modo de por as coisas. Isolamento prolongado, privação de sono, nudez – são procedimento aprendidos diretamente do manual da CIA para “interrogatório estimulado” [ing. “enhanced interrogation”]. Já vimos os mesmos procedimentos aplicados em Guantánamo e Abu Ghraib. Trata-se do que a CIA chama de “tortura sem contato” [ing. "no-touch torture"], e o objetivo, como no caso do soldado Manning, é claro: desmoralizar alguém a ponto de alguém agradecer quando lhe oferecerem a oportunidade de “confessar” qualquer coisa, onde o torturador precise de determinada ‘confissão’. É exatamente o caso, como suspeito, com Manning. A ninguém preocupa que a confissão seja falsa ou verdadeira, desde que implique WikiLeaks, de qualquer modo que ajude o Departamento de Defesa a acusar e processar Julian Assange.
São desconfianças minhas, sobre os motivos pelos quais fazem o que fazem, mas nada disso altera a ilegalidade dos procedimentos dos soldados que mantém preso o soldado Manning. Se eu estiver certo, o tratamento ilegal imposto ao prisioneiro não foi ordenado no plano do oficial encarregado nem do comandante da prisão. O fato de que os maus tratos, o tratamento ilegal e os sofrimentos infligidos ao prisioneiro continuem, apesar de, há semanas, o Conselho Militar do Exército dos EUA encarregado da defesa de Manning ter publicamente protestado e de os procedimentos já terem sido condenados também por organizações como a Anistia Internacional, sugere que a ordem para torturar pode ter vindo “de cima”, dos altos escalões do Departamento de Defesa e do Departamento de Justiça – ou, mesmo, da própria Casa Branca.
Não é coincidência que alguém do Departamento de Estado esteja hoje na imprensa, autor de comentário que pode ser apresentado como ‘desabafo pessoal’, denunciando também – quem denuncia é o porta-voz do Departamento de Estado! – a tortura do soldado Manning. Quando o braço armado do governo dos EUA zomba do dever de respeitar a lei – especificamente do dever de os EUA não torturarem prisioneiros – os piores efeitos recaem sobre o Departamento de Estado, e afetam a própria imagem dos EUA em todo o mundo.
O fato de que Manning esteja sendo torturado em Quantico – onde fiz meu curso básico de formação de oficial da Marinha, durante nove meses – e de que haja Marines que mentem ao mundo sobre a prisão do soldado Manning, faz-se sentir vergonha por toda a corporação. Bastaram-me três meses como oficial de infantaria, para saber que o que está acontecendo em Quantico é ilegal. Tem de ser contido. Tem de ser disciplinado.
quinta-feira, 10 de março de 2011
Manuel Castells, sociólogo e diretor do Instituto Interdisciplinar sobre Internet na Universitat Oberta de Catalunya
09/3/2011 -
Os meios de comunicação passaram semanas centrando sua atenção na Tunísia e no Egito. As insurreições populares que se desenvolveram após o sacrifício do jovem tunisiano Mohamed Bouazizi terminaram em poucos dias com a ditadura de Bem Ali e, na sequência, como peças enfileiradas de dominó, com a 'presidência' de Hosni Mubarack. Abriram-se processos democráticos em ambos os países. Manifestantes também saem às ruas na Líbia, Iêmen, Argélia, Jordânia, Bahrain e Omã.
Em todos esses processos, as novas tecnologias jogam um papel chave primordial — em especial, as redes sociais, que permitem superar a censura. Ante esse desfecho histórico, Manuel Castells, catedrático sociólogo e diretor do Instituto Interdisciplinar sobre Internet na Universitat Oberta de Catalunya, aprofunda a reflexão sobre o que se passa nesse cenário e oferece chaves para entender um movimento cidadão que tira o máximo proveito dos novos canais de comunicação ao seu alcance.
Jordi Rovira – Os movimentos sociais espontâneos na Tunísia e Egito pegaram desprevenidos os analistas políticos. Como sociólogo e estudioso da Comunicação, você foi surpreendido pela ação da sociedade-rede destes países, em sua mobilização?
Manuel Castells – Na verdade não. No meu livro ‘Comunicação e Poder’, dediquei muitas páginas para explicar, a partir de uma base empírica, como a transformação das tecnologias de comunicação cria novas possibilidades para a auto-organização e a automobilização da sociedade, superando as barreiras da censura e repressão impostas pelo Estado. Claro que não depende apenas da tecnologia. A internet é uma condição necessária, mas não suficiente.
As raízes da rebelião estão na exploração, opressão e humilhação. Entretanto, a possibilidade de rebelar-se sem ser esmagado de imediato dependeu da densidade e rapidez da mobilização, e isto se relaciona com a capacidade criada pelas tecnologias do que chamei de 'autocomunicação de massas'.
Jordi Rovira – Poderíamos considerar estas insurreições populares um novo ponto de inflexão na história e evolução da internet? Ou teríamos que analisá-las como consequência lógica, ainda de grande envergadura, da implantação da rede no mundo?
Manuel Castells – As insurreições populares no mundo árabe são um ponto de inflexão na história social e política da humanidade. E talvez a mais importante das muitas transformações que a internet induziu e facilitou, em todos os âmbitos da vida, sociedade, economia e cultura. Estamos apenas começando, porque o movimento se acelera, embora a internet seja uma tecnologia antiga, implantada pela primeira vez em 1969.
Jordi Rovira – A juventude egípcia desempenhou um papel chave nas insurreições populares, graças ao uso das novas tecnologias. No entanto, segundo os cálculos de Issandr El Amrani, analista político independente no Cairo, apenas uma pequena parte da população egípcia dispõe de acesso a internet. Pensa que esta situação pode criar uma brecha – usando suas próprias palavras, entre 'conectados' e 'desconectados' – ainda maior que a que se dá nos países desenvolvidos?
Manuel Castells – O dado já está antiquado. De acordo com uma pesquisa recente (2010), da empresa de informação Ovum, cerca de 40% dos egípcios maiores de 16 anos estão conectados à internet – se levarmos em conta não apenas as ligações domiciliares, mas também os cibercafés e os centros de estudo. Entre os jovens urbanos, as taxas chegam a 70%.
Além disso, segundo dados recentes, 80% da população adulta urbana está conectada por celulares. E, de qualquer maneira, estamos falando de um país com 80 milhões de habitantes. Ainda que apenas um quarto deles estivessem conectados, já poderia haver milhões de pessoas nas ruas. Nem todo o Egito se manifestou, mas um número de cidadãos suficiente para que se sentissem unidos, e pudessem derrotar o ditador.
A história da brecha digital em termos de acesso é velha, falsa hoje em dia e rabugenta. Parte de uma predisposição ideológica de certos intelectuais interessados em minimizar a importância da internet. Há 2 bilhões de internautas no planeta, bilhões de usuários de celulares. Os pobres também têm telefones móveis e existem ainda outras formas de acessar a internet. A verdadeira diferença se dá na banda e na qualidade de conexão, não no acesso em si, que está se difundindo com rapidez maior que qualquer outra tecnologia na história.
Jordi Rovira – Até que ponto o poder dispõe de ferramentas necessárias para sufocar as insurreições promovidas desde a rede?
Manuel Castells – Não as tem. No Egito, inclusive, tentaram desconectar toda a rede e não conseguiram. Houve mil formas, incluindo conexões fixas de telefone a número no exterior, que transformavam automaticamente as mensagens em tweets e fax no país. E o custo econômico e funcional da desconexão da internet é tão alto que tiveram que restaurá-la rapidamente.
Hoje em dia, um apagão da rede é como um apagão elétrico. Bem Ali não caiu tão rápido, houve um mês de manifestações e massacres. O Irã não pode se desconectar da rede: os manifestantes estiveram sempre se comunicando e expondo suas ações em vídeos no YouTube. A diferença é que ali, politicamente, o regime teve força para reprimir de forma selvagem sem que interviesse o exército. Porém as sementes da rebelião estão plantadas e os jovens iranianos, 70% da população, estão agora maciçamente contra o regime. É questão de tempo.
Jordi Rovira – A mobilização popular através dos meios digitais criou heróis cibernéticos no Egito – como Weal Ghonim, o jovem executivo do Google. Que papel podem desempenhar esses novos líderes no futuro de seus países?
Manuel Castells – O importante das 'wikirrevoluções' (as que se autogeram e se auto-organizam) é que as lideranças não contam, são puros símbolos. Símbolos que não mandam nada, pois ninguém os obedeceria, eles tampouco tentariam impor-se. Pode ser que, uma vez institucionalizada, a revolução coopte algumas destas pessoas como símbolos de mudanças – ainda que eu duvide muito que Ghonim queira ser político. Cohn Bendit era também um símbolo, não um líder.
Foi estudante e amigo meu em 68, ele era um autêntico anarquista: rechaçava as decisões dos líderes e utilizava seu carisma (foi o primeiro a ser reprimido) para ajudar a mobilização espontânea.
Walesa foi diferente, um vaticanista do aparato sindical. Por isso, tornou-se político rapidamente. Cohn Bendit tardou muito mais e, ainda assim, é fundamentalmente um verde, que mantém valores de respeito às origens dos movimentos sociais.
Jordi Rovira – A aliança entre meios de comunicação convencional e novas tecnologias é o caminho a seguir no futuro, para enfrentar com êxito os grandes desafios?
Manuel Castells – Os grandes meios de comunicação não têm escolha. Ou aliam-se com a internet e com o jornalismo cidadão, ou irão se marginalizando e tornando-se economicamente insustentáveis. Mas hoje, essa aliança ainda é decisiva para a mudança social. Sem Al Jazeera não teria havido revolução na Tunísia.
Jordi Rovira – Em um artigo intitulado ‘Comunicação e Revolução’, você recordou que em 5 de fevereiro a China havia proibido a palavra Egito na Internet. Acredita que existem condições para que possa ocorrer, no gigante asiático, um movimento popular parecido com o que esta percorrendo o mundo árabe?
Manuel Castells – Não, porque 72% dos chineses apoiam seu governo. A classe média urbana, sobretudo os jovens, estão muito ocupados enriquecendo-se. Os verdadeiros problemas do campesinato e do operário – ou seja, os verdadeiros problemas sociais da China – encontram-se muito longe. O governo resguarda-se demais, porque a censura antagoniza muita gente que não está realmente contra o regime. Na China, a democracia não é, hoje, um problema para a maioria das pessoas, diferente do que ocorria na Tunísia e no Egito.
Jordi Rovira – Esse novo tipo de comunicação, globalizada, atomizada e que se nutre da colaboração de milhões de usuários, pode chegar a transformar nossa maneira de entender a comunicação interpessoal? Ou é apenas uma ferramenta potente a mais, à nossa disposição?
Manuel Castells – Já transformou. Ninguém que está inserido diariamente nas redes sociais (este é o caso de 700 dos 1,2 milhões de usuários) segue sendo a mesma pessoa. Mas não é um mundo exotérico: há uma interrelação online/off-line.
Como esta comunicação mudou, e muda a cada dia, é uma questão que se deve responder por meio de investigação acadêmica, não através de especialistas em fofocas. E por isso empreendemos o Projeto Internet Catalunha na UOC.
Jordi Rovira – Podemos dizer que os ciber-ataques serão a guerra do futuro?
Manuel Castells – Na realidade, esta guerra já faz parte do presente. Os Estados Unidos consideram prioritária a ciberguerra. Destinaram a este tema um orçamento dez vezes maior que todos os demais países juntos. Na Espanha, as Forças Armadas também estão se equipando rapidamente na mesma direção. A internet é o espaço do poder e da felicidade, da paz e da guerra.
É o espaço social do nosso mundo, um lugar híbrido, construído na interface entre a experiência direta e a mediada pela comunicação e, sobretudo, pela comunicação na internet.
Por Jordi Rovira
Fonte: Entrevista originalmente publicada no portal da Universitad Oberta de Catalunya e reproduzida pelo site Outras Palavras no dia 1º/3/2011, com tradução de Cauê Seigne Ameni
Os meios de comunicação passaram semanas centrando sua atenção na Tunísia e no Egito. As insurreições populares que se desenvolveram após o sacrifício do jovem tunisiano Mohamed Bouazizi terminaram em poucos dias com a ditadura de Bem Ali e, na sequência, como peças enfileiradas de dominó, com a 'presidência' de Hosni Mubarack. Abriram-se processos democráticos em ambos os países. Manifestantes também saem às ruas na Líbia, Iêmen, Argélia, Jordânia, Bahrain e Omã.
Em todos esses processos, as novas tecnologias jogam um papel chave primordial — em especial, as redes sociais, que permitem superar a censura. Ante esse desfecho histórico, Manuel Castells, catedrático sociólogo e diretor do Instituto Interdisciplinar sobre Internet na Universitat Oberta de Catalunya, aprofunda a reflexão sobre o que se passa nesse cenário e oferece chaves para entender um movimento cidadão que tira o máximo proveito dos novos canais de comunicação ao seu alcance.
Jordi Rovira – Os movimentos sociais espontâneos na Tunísia e Egito pegaram desprevenidos os analistas políticos. Como sociólogo e estudioso da Comunicação, você foi surpreendido pela ação da sociedade-rede destes países, em sua mobilização?
Manuel Castells – Na verdade não. No meu livro ‘Comunicação e Poder’, dediquei muitas páginas para explicar, a partir de uma base empírica, como a transformação das tecnologias de comunicação cria novas possibilidades para a auto-organização e a automobilização da sociedade, superando as barreiras da censura e repressão impostas pelo Estado. Claro que não depende apenas da tecnologia. A internet é uma condição necessária, mas não suficiente.
As raízes da rebelião estão na exploração, opressão e humilhação. Entretanto, a possibilidade de rebelar-se sem ser esmagado de imediato dependeu da densidade e rapidez da mobilização, e isto se relaciona com a capacidade criada pelas tecnologias do que chamei de 'autocomunicação de massas'.
Jordi Rovira – Poderíamos considerar estas insurreições populares um novo ponto de inflexão na história e evolução da internet? Ou teríamos que analisá-las como consequência lógica, ainda de grande envergadura, da implantação da rede no mundo?
Manuel Castells – As insurreições populares no mundo árabe são um ponto de inflexão na história social e política da humanidade. E talvez a mais importante das muitas transformações que a internet induziu e facilitou, em todos os âmbitos da vida, sociedade, economia e cultura. Estamos apenas começando, porque o movimento se acelera, embora a internet seja uma tecnologia antiga, implantada pela primeira vez em 1969.
Jordi Rovira – A juventude egípcia desempenhou um papel chave nas insurreições populares, graças ao uso das novas tecnologias. No entanto, segundo os cálculos de Issandr El Amrani, analista político independente no Cairo, apenas uma pequena parte da população egípcia dispõe de acesso a internet. Pensa que esta situação pode criar uma brecha – usando suas próprias palavras, entre 'conectados' e 'desconectados' – ainda maior que a que se dá nos países desenvolvidos?
Manuel Castells – O dado já está antiquado. De acordo com uma pesquisa recente (2010), da empresa de informação Ovum, cerca de 40% dos egípcios maiores de 16 anos estão conectados à internet – se levarmos em conta não apenas as ligações domiciliares, mas também os cibercafés e os centros de estudo. Entre os jovens urbanos, as taxas chegam a 70%.
Além disso, segundo dados recentes, 80% da população adulta urbana está conectada por celulares. E, de qualquer maneira, estamos falando de um país com 80 milhões de habitantes. Ainda que apenas um quarto deles estivessem conectados, já poderia haver milhões de pessoas nas ruas. Nem todo o Egito se manifestou, mas um número de cidadãos suficiente para que se sentissem unidos, e pudessem derrotar o ditador.
A história da brecha digital em termos de acesso é velha, falsa hoje em dia e rabugenta. Parte de uma predisposição ideológica de certos intelectuais interessados em minimizar a importância da internet. Há 2 bilhões de internautas no planeta, bilhões de usuários de celulares. Os pobres também têm telefones móveis e existem ainda outras formas de acessar a internet. A verdadeira diferença se dá na banda e na qualidade de conexão, não no acesso em si, que está se difundindo com rapidez maior que qualquer outra tecnologia na história.
Jordi Rovira – Até que ponto o poder dispõe de ferramentas necessárias para sufocar as insurreições promovidas desde a rede?
Manuel Castells – Não as tem. No Egito, inclusive, tentaram desconectar toda a rede e não conseguiram. Houve mil formas, incluindo conexões fixas de telefone a número no exterior, que transformavam automaticamente as mensagens em tweets e fax no país. E o custo econômico e funcional da desconexão da internet é tão alto que tiveram que restaurá-la rapidamente.
Hoje em dia, um apagão da rede é como um apagão elétrico. Bem Ali não caiu tão rápido, houve um mês de manifestações e massacres. O Irã não pode se desconectar da rede: os manifestantes estiveram sempre se comunicando e expondo suas ações em vídeos no YouTube. A diferença é que ali, politicamente, o regime teve força para reprimir de forma selvagem sem que interviesse o exército. Porém as sementes da rebelião estão plantadas e os jovens iranianos, 70% da população, estão agora maciçamente contra o regime. É questão de tempo.
Jordi Rovira – A mobilização popular através dos meios digitais criou heróis cibernéticos no Egito – como Weal Ghonim, o jovem executivo do Google. Que papel podem desempenhar esses novos líderes no futuro de seus países?
Manuel Castells – O importante das 'wikirrevoluções' (as que se autogeram e se auto-organizam) é que as lideranças não contam, são puros símbolos. Símbolos que não mandam nada, pois ninguém os obedeceria, eles tampouco tentariam impor-se. Pode ser que, uma vez institucionalizada, a revolução coopte algumas destas pessoas como símbolos de mudanças – ainda que eu duvide muito que Ghonim queira ser político. Cohn Bendit era também um símbolo, não um líder.
Foi estudante e amigo meu em 68, ele era um autêntico anarquista: rechaçava as decisões dos líderes e utilizava seu carisma (foi o primeiro a ser reprimido) para ajudar a mobilização espontânea.
Walesa foi diferente, um vaticanista do aparato sindical. Por isso, tornou-se político rapidamente. Cohn Bendit tardou muito mais e, ainda assim, é fundamentalmente um verde, que mantém valores de respeito às origens dos movimentos sociais.
Jordi Rovira – A aliança entre meios de comunicação convencional e novas tecnologias é o caminho a seguir no futuro, para enfrentar com êxito os grandes desafios?
Manuel Castells – Os grandes meios de comunicação não têm escolha. Ou aliam-se com a internet e com o jornalismo cidadão, ou irão se marginalizando e tornando-se economicamente insustentáveis. Mas hoje, essa aliança ainda é decisiva para a mudança social. Sem Al Jazeera não teria havido revolução na Tunísia.
Jordi Rovira – Em um artigo intitulado ‘Comunicação e Revolução’, você recordou que em 5 de fevereiro a China havia proibido a palavra Egito na Internet. Acredita que existem condições para que possa ocorrer, no gigante asiático, um movimento popular parecido com o que esta percorrendo o mundo árabe?
Manuel Castells – Não, porque 72% dos chineses apoiam seu governo. A classe média urbana, sobretudo os jovens, estão muito ocupados enriquecendo-se. Os verdadeiros problemas do campesinato e do operário – ou seja, os verdadeiros problemas sociais da China – encontram-se muito longe. O governo resguarda-se demais, porque a censura antagoniza muita gente que não está realmente contra o regime. Na China, a democracia não é, hoje, um problema para a maioria das pessoas, diferente do que ocorria na Tunísia e no Egito.
Jordi Rovira – Esse novo tipo de comunicação, globalizada, atomizada e que se nutre da colaboração de milhões de usuários, pode chegar a transformar nossa maneira de entender a comunicação interpessoal? Ou é apenas uma ferramenta potente a mais, à nossa disposição?
Manuel Castells – Já transformou. Ninguém que está inserido diariamente nas redes sociais (este é o caso de 700 dos 1,2 milhões de usuários) segue sendo a mesma pessoa. Mas não é um mundo exotérico: há uma interrelação online/off-line.
Como esta comunicação mudou, e muda a cada dia, é uma questão que se deve responder por meio de investigação acadêmica, não através de especialistas em fofocas. E por isso empreendemos o Projeto Internet Catalunha na UOC.
Jordi Rovira – Podemos dizer que os ciber-ataques serão a guerra do futuro?
Manuel Castells – Na realidade, esta guerra já faz parte do presente. Os Estados Unidos consideram prioritária a ciberguerra. Destinaram a este tema um orçamento dez vezes maior que todos os demais países juntos. Na Espanha, as Forças Armadas também estão se equipando rapidamente na mesma direção. A internet é o espaço do poder e da felicidade, da paz e da guerra.
É o espaço social do nosso mundo, um lugar híbrido, construído na interface entre a experiência direta e a mediada pela comunicação e, sobretudo, pela comunicação na internet.
Por Jordi Rovira
Fonte: Entrevista originalmente publicada no portal da Universitad Oberta de Catalunya e reproduzida pelo site Outras Palavras no dia 1º/3/2011, com tradução de Cauê Seigne Ameni
sexta-feira, 4 de março de 2011
O extraordinário impacto do lixo
Por Jairo Bouer*
02/03/2011 -
Na semana passada fui ver um filme que deveria ser exibido em todas as escolas do país! "Lixo Extraordinário", documentário que concorreu ao Oscar 2011, mostra a vida dos catadores de material reciclável no aterro sanitário do Gramacho, um dos maiores do mundo, no Rio. Também mostra como a arte pode virar a realidade dessas pessoas de cabeça para baixo.
Quando a gente produz nosso lixo diário, dificilmente pensa no impacto que esses dejetos vão ter para o ambiente e para a vida de outras pessoas. Além de separar os recicláveis (o que já deveria ser uma prática regular em todos os cantos do planeta), a própria maneira como consumimos, produzimos lixo e nos livramos dele deveria ser revista.
É uma cadeia de produção assustadora! O que isso tem a ver com saúde? Tudo! Pode apostar que, quanto mais lixo produzimos, pior estamos nos alimentando!
Outro filme que me veio à cabeça quando vi "Lixo Extraordinário" foi o já clássico "Ilha das Flores" (1989), curta do diretor gaúcho Jorge Furtado que, contando a saga de um tomate, faz uma crítica ácida à nossa sociedade de consumo. Cheque aqui.
A questão ambiental ocupa cada vez mais espaço em nossas vidas. Água, energia, lixo e aquecimento global são temas que vamos ter de encarar. A ligação de tudo isso com nosso estilo de vida, nossa saúde e nosso comportamento não é uma discussão tão óbvia, mas é fundamental. Essa "ecologia" humana já é uma das bolas da vez!
Talvez o mais bonito desse filme seja justamente focar as pessoas, no impacto que o lixo produz em suas vidas, no resgate da sua auto-estima, no poder de compreensão do que é a arte e em como ela pode ser transformadora. Na semana passada, voando para o Rio encontrei um dos personagens (o Tião). Virei tiete! Como o cara é bacana! O lixo pode ser mesmo extraordinário!
* Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Além da prática de consultório, mantém programas em TV e rádio e colaborações em jornais, revistas e sites.
Fonte: Folha de São Paulo (Publicado em 14/02/2011
02/03/2011 -
Na semana passada fui ver um filme que deveria ser exibido em todas as escolas do país! "Lixo Extraordinário", documentário que concorreu ao Oscar 2011, mostra a vida dos catadores de material reciclável no aterro sanitário do Gramacho, um dos maiores do mundo, no Rio. Também mostra como a arte pode virar a realidade dessas pessoas de cabeça para baixo.
Quando a gente produz nosso lixo diário, dificilmente pensa no impacto que esses dejetos vão ter para o ambiente e para a vida de outras pessoas. Além de separar os recicláveis (o que já deveria ser uma prática regular em todos os cantos do planeta), a própria maneira como consumimos, produzimos lixo e nos livramos dele deveria ser revista.
É uma cadeia de produção assustadora! O que isso tem a ver com saúde? Tudo! Pode apostar que, quanto mais lixo produzimos, pior estamos nos alimentando!
Outro filme que me veio à cabeça quando vi "Lixo Extraordinário" foi o já clássico "Ilha das Flores" (1989), curta do diretor gaúcho Jorge Furtado que, contando a saga de um tomate, faz uma crítica ácida à nossa sociedade de consumo. Cheque aqui.
A questão ambiental ocupa cada vez mais espaço em nossas vidas. Água, energia, lixo e aquecimento global são temas que vamos ter de encarar. A ligação de tudo isso com nosso estilo de vida, nossa saúde e nosso comportamento não é uma discussão tão óbvia, mas é fundamental. Essa "ecologia" humana já é uma das bolas da vez!
Talvez o mais bonito desse filme seja justamente focar as pessoas, no impacto que o lixo produz em suas vidas, no resgate da sua auto-estima, no poder de compreensão do que é a arte e em como ela pode ser transformadora. Na semana passada, voando para o Rio encontrei um dos personagens (o Tião). Virei tiete! Como o cara é bacana! O lixo pode ser mesmo extraordinário!
* Jairo Bouer é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com residência em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da USP. Além da prática de consultório, mantém programas em TV e rádio e colaborações em jornais, revistas e sites.
Fonte: Folha de São Paulo (Publicado em 14/02/2011
quarta-feira, 2 de março de 2011
Especuladores da fome fazem preço dos alimentos aumentar
John Vidal - The Observer
Não são apenas más colheitas e mudanças no clima; especuladores também estão por trás dos preços recordes nos alimentos. E são os pobres que pagam por isso. Os mesmos bancos, fundos de investimento de risco e investidores cuja especulação nos mercados financeiros globais causaram a crise das hipotecas de alto risco (sub-prime) são responsáveis por causar a s alterações e a inflação no preço dos alimentos. A acusação contra eles é que, ao se aproveitar da desregulamentação dos preços dos mercados de commodities globais, eles estão fazendo bilhões em lucro da especulação sobre a comida e causando miséria ao redor do mundo.
Fonte: Carta Maior
Não são apenas más colheitas e mudanças no clima; especuladores também estão por trás dos preços recordes nos alimentos. E são os pobres que pagam por isso. Os mesmos bancos, fundos de investimento de risco e investidores cuja especulação nos mercados financeiros globais causaram a crise das hipotecas de alto risco (sub-prime) são responsáveis por causar a s alterações e a inflação no preço dos alimentos. A acusação contra eles é que, ao se aproveitar da desregulamentação dos preços dos mercados de commodities globais, eles estão fazendo bilhões em lucro da especulação sobre a comida e causando miséria ao redor do mundo.
Fonte: Carta Maior
O discurso antipolítica e a participação popular
2 de março de 2011 às 8:18
por Luiz Carlos Azenha
Eu ontem reencontrei o Gilberto Maringoni, um amigo de longa data, dos tempos de Bauru.
E me lembrei do trecho de um livro que ele escreveu sobre a Venezuela (A Venezuela que se inventa), em que Maringoni reproduz trechos do que disse Edgardo Lander sobre o discurso antipolítica. É um discurso comum no Brasil, que aparece disfarçado (“Tiririca foi eleito e o mundo vai desabar”), com os mesmos objetivos: condenar as ações do estado.
Reproduzo:
“Um discurso antipolítica e antipartidos disseminou-se pela mídia, estabelecendo uma oposição maniqueísta entre Estado (caracterizado como corrupto, ineficiente e clientelista) e uma mítica sociedade civil (que inclui a mídia), entendida como uma síntese de todas as virtudes: criativa, cheia de iniciativas, eficaz, honesta e participativa.
O paradigmático novo sujeito dessa democracia de cidadãos, que substituiria a democracia de partidos, era o cidadão-vizinho, concebido com base na experiência das organizações de vizinhança das classes médias e altas urbanas. A preocupação central dessas organizações era a defesa da propriedade e a proteção diante das ameaças representadas pelos setores excluídos da população. O horizonte normativo para esta ideia conservadora de democracia é uma sociedade apolítica, livre de debates ideológicos, na qual a preocupação central dos governantes tem a ver com eficiência e honestidade administrativa, na qual a participação e tomada de decisões democráticas sobre o bem comum está claramente restrita a arenas locais. A economia deve ser vigorosamente protegida das reivindicações demagógicas e irresponsáveis, formuladas em nome da democracia. Todas as políticas sociais e redistributivas por parte do Estado são acusadas de ser populistas.
As organizações sociais e políticas — partidos e sindicatos –, que nas décadas anteriores serviram de canal de expressão para demandas populares, não somente estavam em crise, mas tendiam a ser consideradas, pelo novo discurso, como ilegítimas. A imagem paradigmática deste modelo de cidadania é a vizinhança de classe média e classe média alta, com sua capacitação profissional, acesso à mídia, relações políticas pessoais e uso da internet como instrumento de organização. Com a deslegitimação crescente de todas as políticas públicas distributivas e sociais, os setores não-privilegiados do país têm pouco espaço para a expressão e a articulação de seus interesses. Este modelo político poderia ser chamado de Venezuela imaginária, desconectada da Venezuela profunda, na qual está a vida da maioria da população”.
No Brasil, me parece que uma das formas de expressão do que escreveu Lander está na teledemocracia, na “sensação” de participação que as pessoas derivam de sua relação com a mídia, especialmente no caso dos programas de TV com os quais podem de alguma forma interagir.
por Luiz Carlos Azenha
Eu ontem reencontrei o Gilberto Maringoni, um amigo de longa data, dos tempos de Bauru.
E me lembrei do trecho de um livro que ele escreveu sobre a Venezuela (A Venezuela que se inventa), em que Maringoni reproduz trechos do que disse Edgardo Lander sobre o discurso antipolítica. É um discurso comum no Brasil, que aparece disfarçado (“Tiririca foi eleito e o mundo vai desabar”), com os mesmos objetivos: condenar as ações do estado.
Reproduzo:
“Um discurso antipolítica e antipartidos disseminou-se pela mídia, estabelecendo uma oposição maniqueísta entre Estado (caracterizado como corrupto, ineficiente e clientelista) e uma mítica sociedade civil (que inclui a mídia), entendida como uma síntese de todas as virtudes: criativa, cheia de iniciativas, eficaz, honesta e participativa.
O paradigmático novo sujeito dessa democracia de cidadãos, que substituiria a democracia de partidos, era o cidadão-vizinho, concebido com base na experiência das organizações de vizinhança das classes médias e altas urbanas. A preocupação central dessas organizações era a defesa da propriedade e a proteção diante das ameaças representadas pelos setores excluídos da população. O horizonte normativo para esta ideia conservadora de democracia é uma sociedade apolítica, livre de debates ideológicos, na qual a preocupação central dos governantes tem a ver com eficiência e honestidade administrativa, na qual a participação e tomada de decisões democráticas sobre o bem comum está claramente restrita a arenas locais. A economia deve ser vigorosamente protegida das reivindicações demagógicas e irresponsáveis, formuladas em nome da democracia. Todas as políticas sociais e redistributivas por parte do Estado são acusadas de ser populistas.
As organizações sociais e políticas — partidos e sindicatos –, que nas décadas anteriores serviram de canal de expressão para demandas populares, não somente estavam em crise, mas tendiam a ser consideradas, pelo novo discurso, como ilegítimas. A imagem paradigmática deste modelo de cidadania é a vizinhança de classe média e classe média alta, com sua capacitação profissional, acesso à mídia, relações políticas pessoais e uso da internet como instrumento de organização. Com a deslegitimação crescente de todas as políticas públicas distributivas e sociais, os setores não-privilegiados do país têm pouco espaço para a expressão e a articulação de seus interesses. Este modelo político poderia ser chamado de Venezuela imaginária, desconectada da Venezuela profunda, na qual está a vida da maioria da população”.
No Brasil, me parece que uma das formas de expressão do que escreveu Lander está na teledemocracia, na “sensação” de participação que as pessoas derivam de sua relação com a mídia, especialmente no caso dos programas de TV com os quais podem de alguma forma interagir.
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