quarta-feira, 2 de março de 2011

O discurso antipolítica e a participação popular

2 de março de 2011 às 8:18

por Luiz Carlos Azenha

Eu ontem reencontrei o Gilberto Maringoni, um amigo de longa data, dos tempos de Bauru.

E me lembrei do trecho de um livro que ele escreveu sobre a Venezuela (A Venezuela que se inventa), em que Maringoni reproduz trechos do que disse Edgardo Lander sobre o discurso antipolítica. É um discurso comum no Brasil, que aparece disfarçado (“Tiririca foi eleito e o mundo vai desabar”), com os mesmos objetivos: condenar as ações do estado.

Reproduzo:

“Um discurso antipolítica e antipartidos disseminou-se pela mídia, estabelecendo uma oposição maniqueísta entre Estado (caracterizado como corrupto, ineficiente e clientelista) e uma mítica sociedade civil (que inclui a mídia), entendida como uma síntese de todas as virtudes: criativa, cheia de iniciativas, eficaz, honesta e participativa.

O paradigmático novo sujeito dessa democracia de cidadãos, que substituiria a democracia de partidos, era o cidadão-vizinho, concebido com base na experiência das organizações de vizinhança das classes médias e altas urbanas. A preocupação central dessas organizações era a defesa da propriedade e a proteção diante das ameaças representadas pelos setores excluídos da população. O horizonte normativo para esta ideia conservadora de democracia é uma sociedade apolítica, livre de debates ideológicos, na qual a preocupação central dos governantes tem a ver com eficiência e honestidade administrativa, na qual a participação e tomada de decisões democráticas sobre o bem comum está claramente restrita a arenas locais. A economia deve ser vigorosamente protegida das reivindicações demagógicas e irresponsáveis, formuladas em nome da democracia. Todas as políticas sociais e redistributivas por parte do Estado são acusadas de ser populistas.

As organizações sociais e políticas — partidos e sindicatos –, que nas décadas anteriores serviram de canal de expressão para demandas populares, não somente estavam em crise, mas tendiam a ser consideradas, pelo novo discurso, como ilegítimas. A imagem paradigmática deste modelo de cidadania é a vizinhança de classe média e classe média alta, com sua capacitação profissional, acesso à mídia, relações políticas pessoais e uso da internet como instrumento de organização. Com a deslegitimação crescente de todas as políticas públicas distributivas e sociais, os setores não-privilegiados do país têm pouco espaço para a expressão e a articulação de seus interesses. Este modelo político poderia ser chamado de Venezuela imaginária, desconectada da Venezuela profunda, na qual está a vida da maioria da população”.

No Brasil, me parece que uma das formas de expressão do que escreveu Lander está na teledemocracia, na “sensação” de participação que as pessoas derivam de sua relação com a mídia, especialmente no caso dos programas de TV com os quais podem de alguma forma interagir.

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