quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

27 horas

Opinião / Nacional | 09:17 24/01/2011

Márcio Pochmann

Texto publicado na coluna Tendências / Debates do jornal Folha de S.Paulo, edição de 23/01/2011

A conhecida semana inglesa de trabalho parece se transformar rapidamente em miragem para parcela crescente dos ocupados. Pesquisa realizada sobre condições de vida e trabalho no Reino Unido revela que, nas atividades de serviços, o antigo descanso semanal de 48 horas foi reduzido na prática para somente 27 horas.

Há fortes indícios de que a jornada de trabalho deixa de começar na manhã de segunda-feira e se encerrar na tarde de sexta para, cada vez mais, se iniciar no meio da tarde de domingo e prolongar-se até o início da tarde do sábado.

Assim, o tempo do descanso semanal é diminuído em 21 horas (43,7%), conforme estudos sobre hábitos do trabalho de 4.000 empregados de 16 a 60 anos de idade no setor de serviços britânico.

A cada dez ocupados, seis efetuam tarefas relacionadas ao trabalho heterônomo (pela sobrevivência) no final de semana.

Entre as principais atividades laborais fora do local de trabalho estão as ligadas ao uso contínuo do computador pessoal, especialmente em tarefas de correio eletrônico, internet e no desenvolvimento de relatórios e planejamento.

A maior parte dos ocupados que trabalham no final de semana informa exercê-lo por pressão da empresa, embora haja aqueles que são estimulados a fazê-lo pela concorrência entre os colegas.

No tempo da Revolução Industrial, décadas de lutas do movimento social e trabalhista foram necessárias para conter as extensas jornadas de trabalho (superiores a 14 horas diárias e a mais de 80 horas semanais). Por meio de férias, do descanso semanal e dos limites máximos impostos à jornada (oito horas diárias e 48 horas semanais), a relação do trabalho com o tempo de vida reduziu-se de mais de dois terços para menos da metade.

Assim, os laços de sociabilidade urbana foram construídos por meio do avanço de atividades educacionais, lazer e turismo, entre outras fundamentais à consolidação de um padrão civilizatório superior.

Paradoxalmente, o curso atual da revolução tecnológica nas informações e comunicações faz com que o ingresso na sociedade pós-industrial seja acompanhado da elevação da participação do trabalho no tempo de vida.

O transbordamento laboral para fora do local de trabalho compromete não apenas a qualidade de vida individual e familiar como também a saúde humana.

Não são diminutos os diagnósticos a respeito das novas doenças profissionais em profusão.

O predomínio do trabalho imaterial, não apenas mas substancialmente estendido pelas atividades no setor terciário das economias -a principal fonte atual de geração de novas vagas-, permite que o seu exercício seja fisicamente mais leve, embora mentalmente cada vez mais cansativo.

Antigos acidentes laborais provocados pelo esmagamento em máquinas são substituídos por novos problemas, como o sofrimento humano, a solidão e a depressão, cada vez mais associada às jornadas excessivas de trabalho e ao consumismo desenfreado.

A imaterialidade do trabalho, mesmo nas fábricas, por efeito da automatização e das novas tecnologias de informação e comunicação, torna o exercício laboral mais intenso e extenso.

Por força do transbordamento laboral para além do local de trabalho, a jornada de 48 horas aumenta para 69 horas semanais, enquanto o descanso reduz-se de 48 horas para 27 horas na semana.

Márcio Pochmann, professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas, é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

"Ana de Holanda e ECAD atacam política de Lula"

Política| 25/01/2011 | Copyleft
Sergio Amadeu

O movimento de software livre, de recursos educacionais abertos e os defensores da liberdade e diversidade cultural votaram em Dilma pelos compromissos que ela afirmou em defesa do bem comum. No mesmo dia que a Ministra Ana de Holanda atacou o Creative Commons retirando a licença do site, a Ministra do Planejamento Miriam Belquior publicou a normativa que consolida o software livre como a essência do software público que deve ser usada pelo governo. É indiscutível o descompasso que a Ministra da Cultura tem em relação à política de compartilhamento do governo Dilma. O artigo é de Sergio Amadeu da Silveira.

Sergio Amadeu da Silveira (*)

Os defensores da indústria de intermediação e advogados do ECAD lançam um ataque a política de compartilhamento de conhecimento e bens culturais lançada pelo presidente Lula. Na sua jornada contra a criatividade e em defesa dos velhos esquemas de controle da cultura, chegam aos absurdos da desinformação ou da mentira.

Primeiro é preciso esclarecer que as licenças Creative Commons surgiram a partir do exemplo bem sucedido do movimento do software livre e das licenças GPL (General Public Licence). O software livre também inspirou uma das maiores obras intelectuais do século XXI, a enciclopédia livre chamada Wikipedia. Lamentavelmente, os lobistas do ECAD chegam a dizer que a Microsoft apóia o software livre e o movimento de compartilhamento do conhecimento.

Segundo, o argumento do ECAD de que defender o Cretaive Commons é defender grandes corporações internacionais é completamente falso. As grandes corporações de intermediação da cultura se organizam e apóiam a INTERNATIONAL INTELLECTUAL PROPERTY ALLIANCE® (IIPA, Associação internacional de Propriedade Internacional) e que é um grande combatente do software livre e do Creative Commons. O Relatório da IIPA de fevereiro de 2010 ataca o Brasil, a Malásia e outros países que usam licenças mais flexíveis e propõem que o governo norte-americano promova retaliações a estes países.

Terceiro, a turma do ECAD desconsidera a política histórica da diplomacia brasileira de luta pela flexibilização dos acordos de propriedade intelectual que visam simplesmente bloquear o caminho do desenvolvimento de países como o Brasil. Os argumentos contra as licenças Creative Commons são tão rídiculos como afirmar que a Internet e a Wikipedia é uma conspiração contra as enciclopédias proprietárias, como a Encarta da Microsoft ou a Enciclopédia Britânica.

Quarto, o texto do maestro Marco Venicio Andrade é falso até quando parabeniza a presidente Dilma por ter "restabelecido a soberania de nossa gestão cultural, anulando as medidas subservientes tomadas pelos que, embora parecendo modernos e libertários, só queriam mesmo é dobrar a espinha aos interesses das grandes corporações que buscam monopolizar a cultura". O blog do Planalto lançado pelo presidente Lula e mantido pela presidente Dilma continua com as licenças Creative Commons. Desse modo, os ataques que o defensor do ECAD fez a política dos commons lançada por Gilberto Gil, no MINC, também valem para a Presidência da República.

Quinto, o movimento de software livre, de recursos educacionais abertos e os defensores da liberdade e diversidade cultural votaram em Dilma pelos compromissos que ela afirmou em defesa do bem comum. No mesmo dia que a Ministra Ana de Holanda atacou o Creative Commons retirando a licença do site, a Ministra do Planejamento Miriam Belquior publicou a normativa que consolida o software livre como a essência do software público que deve ser usada pelo governo. É indiscutível o descompasso que a Ministra da Cultura tem em relação à política de compartilhamento do governo Dilma.

(*) Sergio Amadeu da Silveira é professor da UFABC. Sociólogo e doutor em Ciência Política. Foi presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação e primeiro coordenador do Comitê Técnico de Implementação do Software Livre na gestão do presidente Lula.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Resgate de dívida

Opinião / Nacional | 09:32 21/01/2011

Texto publicado no jornal O Globo, edição de 21/01/2011

O debate sobre a fome e a miséria teve início, no Brasil e em escala mundial, com o nordestino Josué de Castro. Outro nordestino, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, concretizou o sonho de gerações, ao adotar várias políticas para a distribuição de renda, inclusão social, enfrentamento das desigualdades regionais, transferência de renda e geração de cidadania, como o Bolsa Família. O governo Dilma inicia-se com essa herança bendita, pois, graças ao Bolsa Família, mais de 12 milhões de famílias passaram a ter acesso a uma renda mínima, garantindo-lhes dignidade num país que sempre foi marcado por um gigantesco fosso social.

O programa terá de avançar - e não retroceder, como defendem setores insensíveis de nossa sociedade - para ajudar a presidente no seu esforço de erradicação da miséria no país, essa marca que nos deixa num ranking negativo no concerto das nações, a despeito dos inúmeros avanços que conseguimos nos últimos oito anos. Poderá haver o acréscimo de mais de um milhão de famílias, incluindo comunidades indígenas, moradores de rua, quilombolas e comunidades de fronteiras. O grande desafio é dar um salto além da herança bendita, como afirmou Dilma.

O Bolsa Família não é um programa assistencialista; as políticas sociais do governo Lula e que terão continuidade no de Dilma, são qualitativamente superiores aos dos governos anteriores. Tais políticas são gestadas para promover a redução da pobreza e o combate à fome e às desigualdades sociais e regionais. Os críticos do programa isolam-se numa visão egoísta, neoliberal, monetarista e materialista, como se as desigualdades sociais, históricas em nosso país, fossem solucionadas apenas pela via de mercado.

O Bolsa Família, com recursos ao redor de 0,5% do PIB, garante a transferência de renda e abre as portas para a cidadania. Tem sido apontado por especialistas como uma das políticas mais eficientes para combater a fome e reduzir a pobreza e a desigualdade. Pela primeira vez, a taxa de pobreza no Brasil fica abaixo de 20% da população. Os elitistas deixam de ver esses avanços rumo à construção de um país mais justo e igualitário.

O Bolsa Família é um dos responsáveis diretos pela retirada de 24 milhões de pessoas da miséria. Beneficia 12 milhões de famílias e cria um cordão de proteção. Não se pode esperar que a economia cresça para que depois a pessoa coma, como se dizia no regime militar. O desafio é manter e aprofundar os resultados obtidos até o momento, incluindo a integração entre o Bolsa Família e outras políticas que possam desenvolver capacidades das famílias pobres.

O programa é o pagamento de uma dívida histórica com as populações marginalizadas do país, com o mérito de ter, ainda, uma repercussão positiva nas pequenas cidades, que tiveram suas economias estimuladas. Os recursos são usados pelas famílias preferencialmente para compra de alimentos, cuja quantidade e variedade aumentaram, afirmam 70% dos beneficiários ouvidos em pesquisa feita pelo Ibase. Há condicionantes como a exigência de vacinação das crianças e a matrícula dos filhos na escola. Só há redução no trabalho infantil entre os beneficiários, o que configura mais um expressivo resultado. Não há motivo para mudar um programa bem-sucedido, reconhecido internacionalmente.



José Guimarães é deputado federal (PT-CE).

Notas sobre juventude e desenvolvimento

Opinião / Geral | 18:29 13/01/20

A eleição de Dilma Rousseff para um terceiro mandato progressista na presidência do Brasil marca uma nova etapa da disputa iniciada no Governo Lula por um programa de transformações democráticas e populares para o país. Essa conjuntura inédita exige que nos debrucemos sobre questões que antes não tinham a mesma relevância no debate político, dentre as quais a questão social da juventude e suas implicações para um desenvolvimento de orientação democrática e popular.

Se o tema juventude ainda é considerado por muitos como secundário, sem relevância diante das “grandes” questões econômicas e sociais é, em parte, porque sobre o mesmo recai uma magnitude de incompreensões e superficialidades que limitam o entendimento sobre a singularidade desta categoria social.

A juventude, enquanto um período específico do ciclo de vida, é marcada pela superação da condição anterior de dependência e proteção exigida pela infância e adolescência por uma etapa em que o indivíduo processa de maneira intensa a busca de sua plena inserção na vida social.

Esta condição, perseguida a partir do desenvolvimento de sua autonomia pessoal e independência, se dá num ambiente de acentuado conflito entre tais anseios e os limites impostos na sociedade capitalista e se manifesta a partir de múltiplas desigualdades e diversidade internas, segundo recortes de classe, gênero, etnia, renda familiar, região de moradia, etc.

O bônus demográfico

É desta leitura diferenciada sobre este momento da vida e a partir da convergência de uma série de fenômenos sociais, que a questão da juventude deve ser localizada no debate mais geral sobre as tendências e a natureza do desenvolvimento.

Dentre estes fenômenos, o conhecimento da dinâmica demográfica em curso no país assume uma dimensão estratégica. A combinação de uma progressiva redução dos índices de mortalidade com a elevada taxa de fecundidade durante os anos 1970 e 1980, propiciou uma profunda alteração na estrutura etária brasileira.

O fato é que a população jovem de 15 a 29 anos nunca foi tão grande no Brasil, aproximadamente 50 milhões ou pouco mais de 25% da população do país. Esta “onda jovem” proporcionou um fenômeno igualmente importante denominado bônus demográfico, no qual o peso da população economicamente ativa (15 a 64 anos) supera o da população dependente – crianças e idosos.

O bônus demográfico é um ativo importantíssimo no desenvolvimento das forças produtivas do país possibilitando, desde que bem aproveitado por uma ação planejada do Estado, um aumento da produção e da renda per capita, a elevação da capacidade de poupança e de investimento e uma otimização dos gastos sociais demandados pela população dependente.

Por acontecer uma única vez, em longos períodos históricos, o bônus demográfico também é conhecido nos estudos populacionais como “janela de oportunidades” para o desenvolvimento.

Os países que aproveitaram tais “janelas” tiveram êxitos na sustentação de seus ciclos de desenvolvimento. Para ficarmos apenas em alguns exemplos, são muitos os estudos que associam o “baby boom” do pós II Guerra à expansão dos “30 anos de ouro do capitalismo” nos EUA e Europa; a expansão dos Tigres Asiáticos e do Japão, também teriam contado com condições demográficas favoráveis nos idos de 1960 e 1970; e na China, a “política do filho único”, dirigida a partir do processo de Reforma e Abertura iniciada em 1978 acabou por gerar um bônus demográfico que participa até hoje do dinamismo econômico que transformou o país asiático na “fábrica do mundo”.

O Estado brasileiro deve considerar tais questões, inclusive, no âmbito das políticas de integração continental, uma vez que com a exceção dos caribenhos, os países da América Latina conformam semelhantes dinâmicas populacionais.

Uma outra questão importante a ser colocada é que tais condições favoráveis são transitórias e não podem ser desperdiçadas. Pelas projeções estatísticas, nosso bônus demográfico se estenderá aproximadamente até 2030, e a partir de então se acentuará uma outra fase de transição demográfica.

A partir da queda expressiva das taxas de fecundidade e da manutenção de baixas taxas de mortalidade e elevação da expectativa de vida da população, passaremos a acompanhar um declínio da população jovem e um crescimento significativo da população idosa, o que exigirá profundas reestruturações no mundo do trabalho e em políticas públicas como saúde, previdência social e mobilidade urbana.

Enfrentar a herança conservadora

Para além da questão demográfica, a importância da juventude no debate do desenvolvimento vai além do seu peso populacional. Principalmente se a intenção não for reduzir o desenvolvimento do país ao mero crescimento econômico ou diluir a questão da juventude nos indicadores gerais de geração de postos de trabalho ou criação de novas vagas escolares.

A via conservadora de desenvolvimento e a própria existência do bônus demográfico, por si, nunca garantiu a inclusão da questão da juventude como pauta diferenciada.

A incorporação à sociedade dos primeiros filhos da “onda jovem” durante os anos 1980 e 1990, por exemplo, coincidiu com o esgotamento do desenvolvimentismo conservador e a expansão do projeto neoliberal no país.

Depois de anos de baixo crescimento econômico e regressão social, podemos dizer que os jovens foram os maiores afetados pelos anos neoliberais. O desmonte da educação e saúde pública, a precarização do acesso ao mundo do trabalho, a escalada da violência nos centros urbanos, a concentração da propriedade no campo, entre outras faces do legado neoliberal, atingiram fortemente a vida dos jovens brasileiros.

Enfrentar tal herança exigirá uma ampliação do reconhecimento político e institucional iniciados pelo governo Lula, em que a compreensão da juventude como “problema social” a ser tutelado passa a perder força para a perspectiva de sujeito de direitos e os jovens se tornam um dos segmentos mais beneficiados pelos avanços das políticas sociais do governo.

Uma nova geração de políticas e direitos da juventude

A orientação geral do Governo Dilma em trabalhar a erradicação da miséria e da fome extrema como meta fundamental de governo continuará demandando um enfoque social ampliado das políticas sociais da juventude. A implementação de políticas públicas de juventude abrangentes e em escala devem colaborar na superação do ciclo de reprodução da pobreza que atinge as novas gerações.

Nesta perspectiva, a ampliação da cobertura das políticas sociais deve compreender também uma nova geração de políticas públicas de juventude e a criação de novos direitos sociais. O recorte conceitual que deve organizar essa nova geração de políticas é o da emancipação e do desenvolvimento integral dos jovens, passando pela afirmação de novos direitos específicos como ao financiamento público do tempo livre, à experimentação, à redução obrigatória da jornada de trabalho durante os estudos, ao trabalho decente, dentre outros.

Ademais, uma nova abordagem programática da articulação entre o mundo do trabalho e a educação para os jovens também se faz necessária.

Apontar uma inserção social e produtiva da juventude diferenciada da atual passa por enfrentar a situação do trabalho juvenil no país – precoce, precarizado, mal remunerado, com longas jornadas, incompatível com a continuidade dos estudos, etc. O desafio passa a ser o de combinar a criação de postos de trabalho decente para a juventude com o financiamento de programas que integrem políticas de transferência de renda, elevação continuada e qualitativa da escolaridade, tempo livre, formação científica e tecnológica e mobilização em serviços comunitários.

De igual maneira, a política educacional deve dar um salto de qualidade. Além da ampliação do acesso à todas as modalidades de ensino e a erradicação do analfabetismo, será preciso empreender uma reestruturação profunda do Ensino Médio em sua articulação com os distintos campos do saber e iniciação científica, na integração com o ensino técnico e profissional e nos seus instrumentos de ensino-aprendizagem, gestão democrática e política pedagógica.

A compreensão das demandas e aspirações destas novas gerações será fundamental para a disputa de um modelo de desenvolvimento alicerçado em reformas democráticas e populares. Construir uma maioria política na sociedade brasileira em torno de um projeto democrático e popular de desenvolvimento que articule soberania nacional e integração regional, desenvolvimento econômico com progresso social e ampliação da democracia com participação popular não pode prescindir das novas gerações. Para setores expressivos da juventude brasileira tratar-se-á de uma luta por uma sociedade diferente da atual, em que os bloqueios da sociedade capitalista e do desenvolvimentismo conservador impedem seu pleno desenvolvimento e autonomia.

Bruno Elias é estudante de Serviço Social da Universidade de Brasília e Coordenador de relações internacionais da Juventude do PT

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O OTIMISMO DOS JOVENS BRASILEIROS

19 de janeiro de 2011 às 13:49
Thelma Oliveira

Olá, Azenha.

Em meio a tantas catástrofes, considero importante divulgar essa matéria que saiu sem muito destaque no uol. Só gostaria de saber se os jovens da pesquisa conseguem relacionar os fatores que propiciam esse otimismo com os dois governos que tornaram isso possível, mais esse que se inicia comprometido a continuar as mudanças.

Um abraço,
Thelma Oliveira

19/01/2011 – 06h30
Mais de 85% de jovens no Brasil creem em futuro promissor, diz pesquisa

do UOL

A juventude brasileira é a segunda mais otimista em relação ao seu futuro pessoal e a terceira a considerar que as perspectivas de seu país são promissoras, segundo a pesquisa “2011 – A Juventude do Mundo”, divulgado pela Fundação para a Inovação Política (Fundapol) da França na noite de terça-feira.

A pesquisa revela as aspirações, os valores e as preocupações atuais dos jovens no mundo. Ela foi realizada em 25 países em cinco continentes, com 32,7 mil pessoas.

Segundo o estudo, 87% dos jovens brasileiros consideram que seu futuro será promissor, atrás apenas dos indianos (90%).

Em relação ao futuro de seus países, o otimismo dos jovens do Brasil fica em terceiro lugar: 72% acreditam que ele também será promissor. Na Índia, o índice foi de 83% e, na China, de 82%.

No entanto, apenas 17% dos jovens gregos, 23% dos mexicanos, 25% dos alemães e 37% dos americanos consideram que o futuro de seus países será promissor.

Os jovens das grandes potências emergentes também são os que mais têm confiança de que terão um bom emprego no futuro. No Brasil, esse índice é de 78%. No Japão, somente 32% acham que isso irá ocorrer.

A juventude da Índia, da China e do Brasil também é a que mais vê a globalização como uma oportunidade e não como uma ameaça. Os números são, respectivamente, 91%, 87% e 81%.

“De uma maneira geral, se considerarmos outros itens da pesquisa, podemos considerar que a juventude brasileira é de longe a campeã de otimismo”, disse à BBC Brasil Dominique Reynié, coordenador-geral do estudo e diretor do centro de estudos francês Fondapol.

Poluição

O vasto estudo, que totaliza mais de 26 mil páginas, abordou 224 temas variados, que vão desde questões econômicas, como emprego e aposentadoria, à confiança nas instituições políticas ou na polícia, além de assuntos ligados à religião, família, sexo, ecologia e internet, entre outros.

Alguns elementos dessa ampla pesquisa, que ainda está sendo compilada em um livro de cerca de 500 páginas, foram divulgados em um evento na noite de terça-feira em Paris.

Segundo a pesquisa, os jovens chineses são os mais preocupados com a poluição (51%). Em uma questão sobre as três maiores ameaças para a sociedade, a poluição, para os chineses, representa um problema maior do que a fome ou a pobreza (43%).

Já no Brasil, 61% afirmam que temem mais a fome ou a pobreza do que a poluição (45%), como na maioria dos países que integram o estudo.

A juventude brasileira é a quarta que se diz mais disposta a dedicar tempo à religião (58%), atrás do Marrocos (90%), da África do Sul (72%) e da Turquia (64%) e à frente de Israel (52%). Já na França e na Espanha, esse índice é de apenas 15%.

Mais de um terço dos jovens brasileiros acha que as relações sexuais só devem ser permitidas no casamento, segundo a pesquisa. A média da União Europeia é de 20%.

Em relação às prioridades para os próximos 15 anos (o questionário permitia escolher três em uma lista de dez), 60% dos jovens indianos afirmam que querem ganhar muito dinheiro.

Mas apenas 24% responderam que ter filhos é um dos projetos importantes nesse período.

No Brasil, ganhar muito dinheiro também é uma prioridade para 47% dos jovens (média semelhante à da União Europeia).

E 39% afirmam que ter filhos é um dos três projetos prioritários nos próximos 15 anos, diz o estudo.

A pesquisa descobriu ainda que 39% dos jovens brasileiros dizem não estar dispostos a pagar pelas aposentadorias das gerações anteriores, somente 27% dizem confiar no Congresso e 62% preferem uma sociedade com distribuição de riquezas a uma sociedade que recompensa o esforço individual – índice próximo aos dos países escandinavos ou da França e bem acima dos outros grandes países emergentes.

Fonte: Viomundo

Fotos feitas por soldados revelam lado pouco conhecido da Guerra do Vietnã

Camilla Costa

Da BBC Brasil em São Paulo
Cotidiano

O professor aposentado Louis Galanos, que serviu no Vietnã entre 1966 e 1967 e passou um ano e meio no hospital militar tratando ferimentos de guerra, é um dos poucos a mostrar também imagens de vietcongues mortos ou capturados pelo Exército americano.

"Algumas pessoas não gostam, mas outras entendem que isso é parte da História. Eu mostrava estas fotos para meus estudantes e eles recebiam muito bem."

O veterano acredita que falar sobre a guerra e mostrar as fotos o ajudou a superar os traumas da experiência.

Em suas fotografias, é possível ver desde prostitutas vietnamitas nas ruas até shows apresentados para os soldados durante a guerra. Nas legendas, ele explica detalhadamente como eram as relações dos soldados com as mulheres locais e como funcionava o mercado negro no Vietnã.

"Alguns soldados trocavam cigarros americanos pela maconha local. Eles levavam pacotes de cigarro para a cidade, trocavam o tabaco por cigarros de maconha e fechavam os pacotes para revendê-los a outros soldados, que poderiam enviá-los para amigos nos Estados Unidos.

Segundo Galanos, era comum que os soldados torturassem os vietcongues capturados para conseguir informações. "Eles batiam, ameaçavam cortar partes do corpo, queimavam seus corpos com cigarros, os afogavam em água, etc. Mas a maioria dos vietcongues eram jovens recrutados à força para lutar contra nós."

As jovens nativas que trabalhavam como empregadas domésticas nas bases também aparecem nas imagens de muitos dos fotógrafos amadores.

"A maioria delas eram garotas católicas, que jamais saíram com os soldados. Suas famílias as deixavam trabalhar porque, em um mês, elas ganhavam mais do que um capitão do Exército vietnamita", conta Galanos.

Para Ronald Frankum, as fotografias de muitos soldados mostram interesse e compaixão pelos vietnamitas, além de serem um documento sobre o impacto da presença americana no Vietnã.

"As fotos das mulheres que trabalhavam como prostitutas ou como domésticas dos soldados para sustentar suas famílias mostram como a presença americana foi significante para aquelas pessoas. As crianças também costumavam perambular pelas bases procurando coisas jogadas fora para vender. Uma indústria foi criada com base no lixo americano", diz Frankum.

Rejeição

Segundo os especialistas, a rejeição sofrida quando retornaram do Vietnã é um dos motivos pelos quais mostrar as imagens para o maior número de pessoas possível se tornou importante para os veteranos.

"Estes soldados não foram bem recebidos pelo país, especialmente porque não havia vitória para celebrar", diz Andrew Wiest. "Houve, na verdade, um esforço nacional para esquecer os veteranos do Vietnã até os anos 1980."

Por causa disso, os ex-combatentes de uma das guerras mais polêmicas da História dos Estados Unidos querem garantir que suas versões da história sejam contadas.

"Eles provavelmente começaram a sentir, ao se aposentarem, que a oportunidade de contar o que viveram estava sendo desperdiçada", analisa Ronald Frankum.

Para ele, tirar as fotos antigas dos armários e publicá-las ofereceu aos soldados uma oportunidade de relembrar os bons momentos.

"As imagens mostram que os homens que estavam tirando as fotos eram na verdade meninos. Muitos deles estavam fora do seu país pela primeira vez."


Para ler na integra: BBC Brasil

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Enchentes em São Paulo são inaceitáveis

JOSÉ AMÉRICO e ADILSON AMADEU



Em vez de ajudar a reduzir as enchentes, como a obra bilionária anunciava, o rio Tietê se tornou o principal fator para sua realimentação



As enchentes que tornam penosa a vida dos paulistanos em todo começo de ano são, em grande parte, produto do imobilismo de nossos governantes. Os diagnósticos oficiais se caracterizam pela superficialidade; os cronogramas não são cumpridos e os recursos financeiros, escassos, são mal aplicados.
Essas são as principais conclusões da CPI das Enchentes, encerrada há um mês na Câmara Municipal de São Paulo (relatório em www.camara.sp.gov.br). Para a maioria de seus integrantes, mais do que à natureza ou mesmo à ocupação errática do espaço urbano, a maior responsabilidade pelos efeitos das chuvas cabe à Prefeitura de São Paulo e ao governo do Estado.
Sempre choveu forte em São Paulo. É bom lembrar que, de acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), o janeiro mais chuvoso de nossa história foi o de 1947 -há 64 anos!-, e não qualquer um mais recente.
Em vez de pautar suas decisões pelo bom senso, o ex-governador José Serra e o atual prefeito Gilberto Kassab têm preferido trilhar o caminho oposto e reduzir as verbas para as enchentes.
Nos últimos dois anos, Serra cortou o quanto pôde -em 2009, gastou menos que a metade dos R$ 188 milhões previstos para o Alto Tietê e, em 2010, reduziu o orçamento do Estado em R$ 51 milhões.

Fonte: www.conversaafiada.com.br

O caso do dossiê Amaury

Quem é o Judas: o da direita ou o da esquerda ?




Para entender melhor o inquérito da Polícia Federal sobre a quebra do sigilo fiscal dos tucanos.
As investigações foram encerradas na semana passada, inclusive com a tomada de depoimento do repórter Amaury Jr por mais de dez horas.
A conclusão final do inquérito foi a de que Amaury trabalhou o dossiê a serviço do Estado de Minas e do governador Aécio Neves – como uma forma de se defender de esperados ataques de José Serra.
Em negociação com o Palácio, a cúpula da Polícia Federal decidiu segurar as conclusões para após as eleições, para não dar margem a nenhuma interpretação de que o inquérito pudesse ter influência política.
No entanto, a advogada de Eduardo Jorge – que tem acesso às peças do inquérito por conta de uma liminar na Justiça – conseguiu as informações. Conferindo seu conteúdo explosivo, aparentemente pretendeu montar um antídoto. Vazou as informações para a Folha, dando ênfase ao acessório – a aproximação posterior de Amaury com a pré-campanha de Dilma – para diluir o essencial – o fato de que o dossiê foi fogo amigo no PSDB.

Extraído do Blog do Nassif

Júlio Cerqueira sobre a inundação de Franco da Rocha: Uma irresponsabilidade da Sabesp

de Conceição Lemes*

Na última semana, Franco da Rocha, a 45 quilômetros da capital paulista, “ganhou” o noticiário nacional. Na quarta-feira, 12, amanheceu inundada, inclusive a Prefeitura. Em certos lugares, a água subiu 2 metros. A população de 120 mil habitantes ficou ilhada.

Sábado, 16 de janeiro, os moradores começaram a voltar para casa. A remoer-lhes esta dúvida: A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) agiu corretamente ao abrir as comportas?

“Por telefone, no dia 11 [terça-feira], a Defesa Civil de Franco da Rocha foi comunicada que no dia seguinte [12, quarta-feira] a Sabesp iria abrir as comportas da represa Paiva Castro e liberar 15 metros cúbicos por segundo [15m³/s]”, diz ao Viomundo João Cruz, assessor de imprensa da Prefeitura do município. “Nada mais foi dito.”

“Por telefone?”, esta repórter questionou-o.

“Só por telefone!”

“Foi só esse comunicado à Defesa Civil?”, a repórter insistiu.

“Só isso. Nada mais.”

“Nem que aumentariam a vazão de 15 m³ para 80 m³/s?”

“Não. Em nenhum momento.”

“No dia 10 [segunda-feira], choveu bastante, mas no 11 deu uma estiada, durante o dia”, prossegue Cruz. “Fomos dormir com os pontos tradicionais de alagamento quando chove aqui. No dia 12 [quarta-feira], amanhecemos debaixo d’água. A inundação foi devido à abertura das comportas da Paiva Castro e não às chuvas que caíram antes.”

Ou seja, em 11 de janeiro, a Defesa Civil de Franco da Rocha foi comunicada que no dia 12 a Sabesp iria abrir as comportas da represa Paiva Castro. Guarde essa informação.

No dia 12, quarta-feira, em entrevista coletiva, a Sabesp afirmou que a abertura das comportas era necessária.



Para o governador Geraldo Alckmin (PSDB), a Sabesp acertou ao abrir as comportas da represa Paiva Castro. Comunicado da empresa reforçou.

Será? A Sabesp teria agido no momento adequado?



“A vazão média do rio Juqueri, que é o formador da Paiva Castro, é de 2 m³/s. Esse reservatório repassa para o canal de Santa Inês, em média, 33 m³/s ”, explica o engenheiro Júlio Cerqueira César Neto, ex- professor de Hidráulica e Saneamento da Escola Politécnica da USP. “Essa operação é feita rotineiramente há mais de 30 anos.”

“As chuvas ocorridas na região são consideradas normais para essa época do ano, como atestam os meteorologistas”, prossegue Cerqueira César. “A série histórica de precipitações apresenta dados de mais de 40 anos.”

“Não há nada, portanto, que possa justificar a descarga de 80 m³/s, a não ser a irresponsabilidade da operadora da Paiva Castro”, é taxativo Cerqueira César.

Fonte: Viomundo

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Estudante denuncia: “A perseguição da PM no centro da cidade começou após a dispersão”

16 de janeiro de 2011 às 12:33
por Conceição Lemes

Quinta-feira, às 17h, praça dos Ciclistas (esquina das avenidas Consolação com Paulista): o segundo ato público contra o aumento da tarifa de ônibus na cidade de São Paulo, que passou R$ 2,70 para R$ 3.

O primeiro, na última quinta-feira, reuniu cerca de mil manifestantes e acabou reprimido pelo Polícia Militar. Trinta e uma pessoas foram detidas e, pelo menos, dez ficaram feridas.

“Os detidos já foram liberados”, informa ao Viomundo a estudante de Direito Nina Cappello, do Movimento Passe Livre. “Por enquanto nenhum foi indiciado, não teve nenhuma acusação específica, foi só para averiguação. Quanto aos feridos, dois fizeram boletim de ocorrência e um realizou exame de corpo de delito.”

Nina é estudante de Direito, pertence ao Movimento Passe Livre e foi a responsável pela negociação com a Polícia Militar durante a manifestação.

Viomundo – As imagens iniciais mostram um ambiente tranqüilo. O que aconteceu?

Nina Cappello — Inicialmente a manifestação estava indo bem, mesmo. Trocaram três vezes o comandante militar da operação. Na terceira, quando assumiu o tenente Siqueira, o diálogo diminuiu bastante. Os policiais queriam que a gente liberasse uma faixa de trânsito. Mas, como tinha muita gente, foi difícil conter o pessoal. Uma pessoa foi detida e o problema começou.

Acho, no mínimo, irônico, que uma manifestação pela melhoria do transporte público deva priorizar respeitar o espaço dos carros.

Viomundo – O que você fez na hora em que houve a primeira prisão?

Nina Cappello – Tentei conversar com os policiais que estavam com o manifestante detido. Eles foram logo me dizendo: “Acabou o diálogo, olha o tipo de pessoa que vocês trazem pra manifestação”.

Aí,um policial jogou spray de pimenta no rosto de um manifestante que estava questionando a detenção. O que a gente viu em seguida foi uma ação quase que irracional — aliás, muito racional para dispersar a manifestação — de todos os policiais, que passaram a atirar bombas e balas de borracha no meio da manifestação. Engraçado que o discurso deles era de que a gente precisava liberar uma faixa de trânsito, porque eles estavam ali para nos proteger e não queriam que fôssemos agredidos pelos carros. Só que os próprios PMs nos agrediram.

Viomundo – O que te impressionou mais?

Nina Cappello — A perseguição aos manifestantes que começou no centro da cidade após a dispersão, ou seja, o ato público já havia acabado . Em alta velocidade, carros de polícia passaram a percorrer o trajeto da manifestação – Praça da República – Câmara Municipal-Teatro Municipal –, em busca de pessoas que viram no ato.

Viomundo – A manifestação já não havia acabado?

Nina Cappello – Tinha. Mas dois grandes enquadros absolutamente casuais foram feitos após o final da manifestação.

Viomundo – O que é um enquadro?

Nina Cappello – A polícia para a pessoa para revistar. A manifestação já tinha acabado e a PM parou, aleatoriamente, dois grupos de manifestantes para revistar. Aí, 30 foram detidos. Nós chegamos a nos concentrar novamente na Xavier de Toledo, para prosseguir até a Câmara dos Vereadores, que era o local definido como final do ato, mas voltamos para tentar impedir um enquadro.

Infelizmente o resultado foi outro. Mesmo com pontos de ônibus lotados, mais bombas e balas de borracha foram lançadas, além de agressão física direta àqueles aqueles que entravam nos locais próximos para se proteger. Todos os detidos foram levados para o 3º Distrito Policial para averiguação. O despreparo da Polícia Militar nas detenções e na recusa de diálogo ficou evidente.

Viomundo – Mas vocês derrubaram um “posto de observação” da PM e quebraram vidros da loja de uma galeria?

Nina Cappello – A repressão teve início antes desses incidentes. Eles ocorreram quando o pessoal estava fugindo das bombas. Evidentemente não defendemos tais atitudes, mas elas foram reflexo da revolta com a repressão após a manifestação. É bom ressaltar que as armas utilizadas pelos policiais são absolutamente inapropriadas. Por exemplo, o gás pimenta é proibido contra civis pela Convenção de Genebra. Mas, aqui no Brasil, é largamente utilizado em manifestações públicas. As bombas de efeito moral, que deveriam ser lançadas, no mínimo, a 30 metros das pessoas, foram jogadas no meio da manifestação.

Viomundo – Olhando as fotos, vi policiais sem identificação. Isso é normal?

Nina Cappello – Policiais não podem andar sem identificação. Pela nossa experiência, quando os vemos tirando a identificação ou sem ela, já sabemos que provavelmente haverá repressão. Ficar sem identificação é o primeiro passo. Isso dificulta as nossas denúncias, pois a Corregedoria da PM não toma nenhuma atitude se não identificarmos os policiais agressores. Aliás, a maioria dos policiais que agrediram estava sem identificação. Isso sem falar que várias pessoas que estavam fotografando a manifestação foram obrigadas, pelos policiais, a apagar as imagens. Um dos detidos teve seu cartão de memória esvaziado. É uma pena tanta disposição para reprimir uma manifestação cuja causa diz respeito a todos nós.

domingo, 16 de janeiro de 2011

EDUCAR CONTRA A BARBÁRIE

15/01/2011 by Antonio Ozaí da Silva in educação, política, práxis docente

Você que nasceu nos anos 1960 sabe onde fica Auschwitz? Sabe o que aconteceu? E a geração dos anos 1980, será que aprendeu o significado de Auschwitz? Sabemos cultivar nas mentes e corações dos jovens a indignação diante da barbárie em Auschwitz e outros campos de concentração nazistas?

Nossa responsabilidade como educadores é enorme. A realidade que nos cerca expressa a barbárie e está prenhe de fatores que apontam para o risco da regressão. O mundo globalizado impele as pessoas em direção ao xenofobismo, à intolerância diante do outro, à idéia de que há uma inevitabilidade histórica, ao consumismo e ao individualismo desenfreado. Naturalizam-se as mazelas e misérias da condição humana, em nome de um determinismo amparado num viés tecnicista e nas necessidades da concorrência internacional, isto é, da predominância do mercado.

Prevalece a mesmice entediante e anestesiante. Espaços onde deveria frutificar a reflexão crítica mais parecem “cemitérios de vivos”. A crítica deu lugar ao comodismo e ao servilismo. Os poderosos de plantão decretaram que não existe alternativa e muitos acataram. Os problemas sociais que afligem enormes parcelas da humanidade, excluídas da mais elementar cidadania, parecem inevitáveis ou castigo. A condição humana continua a ser aviltada em situações que antes horrorizavam os bem-pensantes membros da classe média intelectualizada.

Enquanto isso nos voltamos para o nosso mundinho, para o nosso umbigo; para as veleidades da ambição acadêmica. Vaidosos, ostentamos nossos títulos acadêmicos como prova de pretensa superioridade intelectual. Títulos que nada provam. Mesquinhos, alimentamos nosso ego com o quinhão do poder burocrático. Em nossa arrogância, fetichizamos a técnica e o conhecimento sem atentarmos para o fato de que seu domínio pelo nazismo significou a supressão da humanidade. Como compreender que foram precisamente os cientistas, isto é, pessoas tituladas e diplomadas, que projetaram o sistema de morte que vitimizou milhões com rapidez e eficiência?

Donos da verdade, damos ouvidos às conversas de corredores, formalizamos a informalidade das relações em memorandos, protocolandos, etc. Transformamos o trivial e o ridículo em batalhas políticas – ainda que coloquemos em risco a sobrevivência econômica dos nossos colegas de trabalho. Substituímos a mais elementar solidariedade pela autofagia e pelo individualismo exacerbado.

Em nome da eficiência quantificamos tudo. Assim, repetimos outro procedimento presente em Auschwitz: a coisificação das relações humanas. A partir do momento em que não nos indignamos diante da realidade social, que aceitamos como naturais determinados fenômenos sociais, acabamos por admitir que parcelas de seres humanos são descartáveis. Longe de pura abstração filosófica, este fenômeno está presente em nosso cotidiano nas questões que nos parecem mais banais. Numa realidade onde a vida humana pouco vale, a tendência é a crescente banalização do mal.

Como educadores, temos responsabilidade social. Ao invés de nos perdemos em discussões intermináveis e estéreis; de nos afogarmos em nossa própria vaidade; de gastarmos nosso precioso tempo na mesquinhez do emaranhado burocrático e na luta pelo poder de controlar os meios de prejudicar o outro; de nos desgastarmos em picuinhas e academicismos; eduquemos no sentido da auto-reflexão crítica e nos dediquemos à tarefa de esclarecer, para que se produza um clima intelectual, cultural e social que não permita a repetição de Auschwitz. O primeiro passo é repensarmos nossas práticas como educadores e nos indignarmos com tudo que nos lembre Auschwitz …

http://antoniozai.wordpress.com/2011/01/15/educar-contra-a-barbarie/

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

GERMINA UM GOVERNO FEMININO

Por Mario Osava, da IPS
Rio de Janeiro, Brasil, 13/1/2011 –

Dilma Rousseff confirmou em suas ações iniciais como primeira presidente do Brasil que a dimensão feminina distinguirá sua gestão, desenhada para ser a continuidade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma, após assumir o cargo e nomear nove ministras – recorde histórico –, anunciou que sua principal meta social é erradicar a pobreza extrema. Para cumprir esta promessa terá de adotar um enfoque de gênero, porque esta é uma chaga basicamente feminina, que resistiu às ultimas e exitosas políticas de combate à pobreza e à desigualdade no Brasil.

As famílias mais pobres estão majoritariamente a cargo de “mulheres com filhos pequenos, menores de dez anos”, segundo Hildete Pereira, professora da Universidade Federal Fluminense e pesquisadora de economia e gênero. Esta situação ocorre por um conjunto de fatores, entre eles os fatos de as mulheres receberem salário menor do que o dos homens para trabalho igual, terem menos propriedades e serem as esquecidas nas heranças. Isto se agrava quando os casais se separam, pois são elas que, geralmente, assumem a responsabilidade pelos filhos, disse a economista à IPS.

Com menos renda, mais responsabilidades e obstáculos adicionais para obter emprego, a mãe sozinha cai na miséria. Por isso, o Programa de Erradicação da Pobreza Extrema, que estará pronto para aplicação em março conforme anunciado pelo governo de Dilma Rousseff, exigirá a capacitação das mulheres beneficiadas e incluirá ampla oferta de creches, disse Hildete. Se não forem criadas as condições para que essas mulheres tenham melhores oportunidades no mercado de trabalho e maiores rendas, as possibilidades de reduzir a miséria nesse segmento da sociedade serão muito escassas, segundo os especialistas.

A quantidade de brasileiros na indigência caiu de 32,4 milhões para 15,8 milhões, entre 1993 e 2008. Porém, se forem consideradas apenas as famílias lideradas por mulheres, apenas 300 mil pessoas saíram dessa situação dentre as 5,5 milhões que havia no começo desse período, segundo o Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade, com base em dados oficiais. Também se sabe que a situação é ainda pior nas dez maiores cidades do país, onde a quantidade de famílias indigentes encabeçadas por mulheres aumentou de 1,6 milhão para 1,8 milhão nos 15 anos estudados.

“O rosto da pobreza extrema é uma mulher negra e chefe de família”, resumiu Hildete, e acrescentou que também a discriminação racial contribui para anular, nesse setor populacional, os efeitos positivos do crescimento econômico, a geração de milhões de empregos e as políticas de transferência de renda que marcaram os oito anos do governo Lula.

Dilma prometeu em sua campanha criar seis mil creches. A quantidade é irrisória para as necessidades de um país com 191 milhões de habitantes, mas se trata de uma meta do governo federal, que não é o responsável por este tipo de atenção social. O problema é que as prefeituras, as verdadeiras responsáveis por aumentar o número de creches, não o fazem, embora disponham de recursos de um fundo educacional. Tampouco este assunto é uma bandeira importante de campanha nas eleições municipais, lamentou Hildete, dizendo que o desafio de Dilma será “induzir” as autoridades locais a fazerem sua parte.

“A luta mais obstinada de meu governo será a erradicação da pobreza extrema e a criação de oportunidades para todos”, assegurou Dilma ao assumir a Presidência. Para a tarefa colocou Tereza Campello à frente do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e Ana Fonseca como sua sub, ambas com um passado de projetos e coordenação de programas sociais, como o Bolsa-Família, que beneficia 12,8 milhões de famílias pobres.

A feminização do governo promovida por Dilma não atingiu a meta anunciada de 30% de mulheres em sua equipe de 37 integrantes do gabinete. Mas nove mulheres representam o dobro da média mantida por Lula em seus dois mandatos. Na história da República, inaugurada em 1889, houve apenas 17 ministras, e nenhuma antes de 1889. É “uma novidade importante”, embora a meta de 11 não tenha sido atingida “porque os partidos não indicaram mulheres” para representá-los no gabinete ministerial, disse Jacira Melo, diretora do Instituto Patrícia Galvão.

Além disso, todas as ministras reúnem “qualificação técnica e compromisso” com a igualdade de gênero, acrescentou Jacira. “Pela primeira vez, as políticas sociais serão integradas”, com uma coordenação entre ministérios de baixos orçamentos, como os de Políticas para Mulheres, de Igualdade Racial e de Direitos Humanos, que fortalecerá suas vozes nos projetos destinados a combater as desigualdades, ressaltou.

As primeiras iniciativas do governo alimentam o “otimismo” do movimento de mulheres. A decisão de Dilma de querer ser chamada de presidenta, em lugar da palavra neutra presidente, preferida pelos meios de comunicação e pela população em geral, tem “um valor simbólico extraordinário”, disse a ativista. Essa afirmação feminina não ocorreu nas eleições parlamentares realizadas em outubro, ao mesmo tempo que o primeiro turno presidencial.

Apenas 45 mulheres conseguiram acesso à Câmara dos Deputados, com 513 cadeiras, repetindo o resultado de 2006. No Senado, a bancada feminina aumentou apenas uma cadeira, somando 12 senadoras entre 81 integrantes da casa. “Temos de questionar os partidos políticos, que são a grande barreira” para uma maior representação feminina no parlamento, ao bloquearem o acesso das mulheres a instâncias de poder partidário e negar-lhes financiamento para suas campanhas eleitorais, lamentou Jacira.

Dilma tampouco abraçou bandeiras feministas, como a legalização do aborto, mas se seu governo conseguir “tratar com serenidade o assunto, sem ceder às pressões da Igreja Católica”, ampliando os serviços de saúde e de prevenção, já será um grande avanço, concluiu Jacira. Envolverde/IPS



(IPS/Envolverde)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A HISTÓRIA DO PIRAÍ DIGITAL

Enviado por luisnassif, qui, 13/01/2011 - 16:31
Do Brasilianas.org

Planejamento e internet mudam história de cidade

Por Lilian Milena

Piraí, município localizado ao sul do estado do Rio de Janeiro, com pouco mais de 25 mil habitantes, vem chamando atenção pelo bom desempenho educacional e social atingidos nos últimos anos, tudo graças a um programa de desenvolvimento voltado para atração de empresas e universalização da internet, iniciado no final da década de 1990.

Em 1997, o desemprego em massa obrigou a cidade a desenvolver às pressas um plano de desenvolvimento local. O atual secretário de Planejamento, Ciência e Tecnologia, do município, Fábio Marcelo Silva, conta que as demissões foram causadas pelo processo de privatização da Companhia de Energia Elétrica do Rio de Janeiro, Light, que empregava, então, cerca de 1,5 mil das 22 mil pessoas que moravam na cidade.


No mesmo ano, o programa de desenvolvimento começou a ser estruturado. A proposta se baseou na construção de condomínios industriais atraindo empreendimentos com incentivos fiscais. “O objetivo era trazer empresas e suprir o déficit gerado de desemprego, e melhorar a renda da população, já que as demissões tiveram o efeito cascata no comércio local muito grande, uma vez que essas pessoas [desempregadas] tinham um salário razoável e consumiam em Piraí”, explica Silva.

Desde então, cerca de 20 empresas se instalaram no município. Em 2001, graças ao sucesso do plano de desenvolvimento, Piraí recebeu o Prêmio de Gestão Pública de Cidadania, concedido pela Fundação Ford, Fundação Getúlio Vargas (FGV) e BNDES.

Até chegar à internet grátis

A partir desse reconhecimento, os governantes de Piraí tiveram uma nova ideia para manter o interessa das empresas que já tinha atraído para a região: tornar o acesso à internet barato na região. “Não tínhamos acesso à internet, principalmente em banda larga. E isso é uma demanda de qualquer indústria. O Piraí Digital começou a ser pensando nesse seguimento”, lembra o secretário.

O município realizou parcerias com a iniciativa privada que contribuiu para a construção do primeiro projeto. Silva conta que mais de 20 empresas ajudaram no plano. “A implantação do nosso primeiro desenho custou R$ 200 mil. É um sistema hibrido onde usamos tecnologia wirellss [de ondas de radio para propagação de sinal da internet] e também a cabo”.

Em 2004, foi inaugurada a primeira fase do projeto, com internet grátis disponível em escolas, prédios públicos, postos de saúde e telecentros, para acesso da população em geral. Silva explica que o objetivo do governo era, num segundo momento, levar o sinal da prefeitura para as residências e empresas há um custo 50% inferior do que os provedores privados cobravam na época, o que não foi feito, porque a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) não concedia licenças para que prefeituras operassem esse tipo de serviço.

Em março de 2007 o Conselho Diretor da Anatel autorizou prefeituras municipais a operarem diretamente serviços de telecomunicação. Para tanto, elas teriam que solicitar, a partir de então, uma licença de Serviço Limitado Privado (SLP), sob condição de não cobrarem pelo serviço prestado. Foi assim que Piraí liberou os serviços à toda população.

Segundo Silva, hoje o município gasta cerca de 75 mil reais ao mês com manutenção do programa e ampliação do sistema hibrido (banda larga e wireless). “Esse custo já faz parte do orçamento municipal”, completa.

Impactos

A cidade de Piraí investe 34% do seu orçamento na educação. Na época em que aguardava licença da Anatel para propagar o sinal de internet a toda população, o município se voltou para as escolas, disponibilizando o acesso a toda sua rede de ensino.

Em 2007, foi uma das quatro cidades escolhidas para o projeto piloto do Ministério da Educação “Um computador por Aluno”, quando foram cedidos 700 computadores ao colégio Professora Rosa da Conceição Guedes, que duplicou, em apenas dois anos, sua avaliação no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), de 2,2 pontos para 4,8 pontos.

O sucesso do projeto levou o município a fechar um acordo com o estado do Rio de Janeiro para levar computadores a todos os alunos de toda a rede municipal de ensino. E em 2009, Piraí se tornou a primeira cidade do mundo onde todos os estudantes trabalham com um micro em sala de aula. Ao todo são 5,5 mil equipamentos entregues, nas 21 escolas municipais, pelo governo do Estado e a pela empresa Intel, a um custo de R$ 700 cada.

“O estado investiu R$ 4 milhões para a compra dos laptops, e o município entrou com a contrapartida de R$ 1,2 milhão para estruturar a rede wireless nas escolas e também adquirir notebooks para os professores”, diz Silva.

Em 2004, Piraí foi mais uma vez reconhecida com o Prêmio de Gestão Pública, o mesmo conquistado em 2001, e concedido pelas entidades Fundação Ford, FGV e BNDES. No mesmo ano, receberam o Prêmio Latino Americano de Cidades Digitais, em Bogotá, capital da Colômbia, na categoria cidade de pequeno porte, além de serem formalmente elogiados pela UNESCO pela relevância do projeto Piraí Digital.

Em 2005, foi a vez de levar o prêmio TOP Seven, Intelligence Community, em Nova York, por serem considerados uma das sete cidades mais inteligentes do mundo. Também, no mesmo ano, receberam o Prêmio CONIP – Congresso Nacional de Informática Pública.

Um estudo realizado pela Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) e que resulta no Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) destaca Piraí no 116º lugar entre os 5.564 municípios brasileiros. O trabalho foi divulgado em 2010, com base em dados do ano de 2007. De acordo com o levantamento, Piraí está entre os 4% dos mais de 5.500 municípios brasileiros que possuem IFDM acima de 0,8 – índice que leva em consideração alto desenvolvimento.

Para escutar a íntegra da entrevista concedida pelo secretário de Planejamento, Ciência e Tecnologia, do município, Fábio Marcelo Silva, ao Brasilianas.org, clique aqui.

TRANSCRITO DO BLOG DO LUÍS NASSIF

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Professores e estudantes de escola de Ubatuba (SP) constroem satélite que deverá ser lançado nos Estados Unidos e entrar em órbita ainda em 2011

Da sala de aula para o espaço
12/1/2011

Revista Pesquisa FAPESP – Um grupo de professores e 120 estudantes do quinto ano da Escola Municipal Tancredo Neves, de Ubatuba, litoral norte paulista, em conjunto com empresários e pesquisadores voluntários, estão construindo um satélite artificial que deve ser lançado nos Estados Unidos e entrar em órbita ainda este ano.

A iniciativa partiu do professor de matemática Candido Osvaldo de Souza. Em fevereiro de 2010, ele leu em uma revista de divulgação científica que uma empresa dos Estados Unidos, a Interorbital, vendia kits de satélites chamados TubeSats, que permaneciam em órbita a 300 quilômetros de altitude durante três meses. Ousadamente, Souza pensou em construir e lançar um desses. Os alunos aprovaram seu plano, mesmo sabendo que teriam de enfrentar muitas dificuldades, que Souza está superando, uma a uma.

Para começar, não tinham como pagar os U$ 8 mil do kit do satélite. Souza, porém, conseguiu o patrocínio de empresas locais que cobriram as despesas. Depois, ele descobriu que somente por meio de uma fundação seria possível enviar o dinheiro à empresa nos Estados Unidos. Conversou com os dirigentes da escola, com os políticos da cidade e conseguiu transformar a Associação de Pais e Mestres em uma fundação. O professor de matemática teve de batalhar também uma licença do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão federal sediado em São José dos Campos, interior paulista, que constrói e gerencia satélites no Brasil.

Aos poucos, Souza conseguiu o apoio de outros professores, que mobilizaram os estudantes de todas as classes e promoveram um concurso para selecionar a mensagem que o satélite deve emitir nos três meses em que estiver em órbita.

A equipe coordenada por ele e por Emerson Yaegashi, que também ensina matemática, trabalha agora nos dispositivos eletrônicos do interior do satélite. Receberam os componentes e as instruções para montar os protótipos e a versão definitiva. Vendo que precisava de ajuda, Souza procurou uma empresa de robótica e desenvolvimento de software sediada na cidade de São Paulo, a Globalcode, e teve uma grata surpresa: os diretores, Vinicius Senger e Yara Mascarenhas Hornos Senger, moravam em Ubatuba.

“Vencidas as etapas financeira e burocrática, agora o grande desafio é construir o recheio do satélite”, diz Yara. Depois de coordenarem o treinamento sobre eletrônica básica para os professores, Vinicius e Yara começaram voluntariamente a ajudar docentes e alunos a desenhar, corroer e soldar as placas dos protótipos do satélite.

“Criamos a placa Ubatubino, que pode ser reutilizada para outras funções e as próprias crianças podem fabricar, usando programas de fonte aberta e material simples, como um ferro de passar roupa”, diz Vinicius. “As crianças estão fazendo pequenos computadores, com capacidade similar aos que os astronautas usaram na década de 1960 quando pousaram na Lua. É totalmente viável construirmos satélites educacionais inteiramente no Brasil, sem depender de importações, e promover, por exemplo, competições entre escolas.”

A edição de janeiro da revista SatMagazine , especializada em satélites, citou o trabalho realizado em Ubatuba: “O TubeSats já é parte do currículo de universidades e escolas ao redor do mundo. Talvez o mais ambicioso projeto esteja no Brasil em um programa coordenado por Candido Osvaldo e Emerson Yaegashi, no qual 120 estudantes criaram 22 maquetes do TubeSats em sala de aula. Os alunos que construírem as melhores maquetes ganharão a honra de montar o TubeSat orbital real”.

Sérgio Mascarenhas, coordenador de projetos do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos, tem acompanhado com entusiasmo a construção do satélite de Ubatuba: “O apoio à iniciativa do professor é a saída para melhorarmos a educação no Brasil”, comenta. Em férias, o professor Candido Osvaldo de Souza não foi encontrado para comentar o projeto que ele coordena.

Imagens

O vídeo “Mão na massa: aprendendo a soldar, criar placas, corroer e fabricar placas no seu escritório” contém etapas do processo de produção das placas pelos professores e pelas crianças – como a impressão, usando ferro de passar roupa.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

MARISA LETÍCIA LULA DA SILVA, PALAVRAS QUE PRECISAVAM SER DITAS

5 de janeiro de 2011 às 13:39
por Hildegard Angel*, no R7, via Pastorador, sugestão do leitor Rios

Foram oito anos de bombardeio intenso, tiroteio de deboches, ofensas de todo jeito, ridicularia, referências mordazes, críticas cruéis, calúnias até. E sem o conforto das contrapartidas. Jamais foi chamada de “a Cara” por ninguém, nem teve a imprensa internacional a lhe tecer elogios, muito menos admiradores políticos e partidários fizeram sua defesa. À “companheira” número 1 da República, muito osso, afagos poucos.

Dirão os de sempre, e as mordomias? As facilidades? O vidão? E eu rebaterei: E o fim da privacidade? A imprensa sempre de olho, botando lente de aumento pra encontrar defeito? E as hostilidades públicas? E as desfeitas? E a maneira desrespeitosa com que foi constantemente tratada, sem a menor cerimônia, por grande parte da mídia? Arremedando-a, desfeiteando-a, diminuindo-a? E as frequentes provas de desconfiança, daqui e dali? E – pior de tudo – os boatos infundados e maldosos, com o fim exclusivo e único de desagregar o casal, a família?

Ah, meus queridos, Marisa Letícia Lula da Silva precisou ter coragem e estômago para suportar esses oito anos de maledicências e ataques. E ela teve. Começaram criticando-a por estar sempre ao lado do marido nas solenidades. Como se acompanhar o parceiro não fosse o papel tradicional da mulher mãe de família em nossa sociedade.

Depois, implicaram com o silêncio dela, a “mudez”, a maneira quieta de ser. Na verdade, uma prova mais do que evidente de sua sabedoria. Falar o quê, quando, todos sabem, primeira-dama não é cargo, não é emprego, não é profissão?
Ah, mas tudo que “eles” queriam era ver dona Marisa Letícia se atrapalhar com as palavras para, mais uma vez, com aquela crueldade venenosa que lhes é peculiar, compará-la à antecessora, Ruth Cardoso, com seu colar pomposo de doutorados e mestrados.

Agora, me digam, quantas mulheres neste grande e pujante país podem se vangloriar de ter um doutorado? Assim como, por outro lado, não são tantas as mulheres no Brasil que conseguem manter em harmonia uma família discreta e reservada, como tem Marisa Letícia.

E não são também em grande número aquelas que contam, durante e depois de tantos anos de casamento, com o respeito implícito e explícito do marido, as boas ausências sempre feitas por Luís Inácio Lula da Silva a ela, o carinho frequentemente manifestado por ele. E isso não é um mérito? Não é um exemplo bom? Passemos agora às desfeitas ao que, no entanto, eu considero o mérito mais relevante de nossa ex-primeira-dama: a brasilidade.

Foi um apedrejamento sem trégua, quando Marisa Letícia, ao lado do marido presidente, decidiu abrir a Granja do Torto para as festas juninas. A mais singela de nossas festas populares, aquela com Brasil nas veias, celebrando os santos de nossas preferências, nossa culinária, os jogos e brincadeiras. Prestigiando o povo brasileiro no que tem de melhor: a simplicidade sábia dos Jecas Tatus, a convivência fraterna, o riso solto, a ingenuidade bonita da vida rural. Fizeram chacota por Lula colar bandeirinhas com dona Marisa, como se a cumplicidade do casal lhes causasse desconforto.

Imprensa colonizada e tola, metida a chique. Fazem lembrar “emergentes” metidos a sebo que jamais poderiam entender a beleza de um pau de sebo “arrodeado” de fitinhas coloridas. Jornalistas mais criteriosos saberiam que a devoção de Marisa pelo Santo Antônio, levado pelo presidente em estandarte nas procissões, não é aprendida, nem inventada. É legitimidade pura. Filha de um Antônio (Antônio João Casa), de família de agricultores italianos imigrantes, lombardos lá de Bérgamo, Marisa até os cinco de idade viveu num sítio com os dez irmãos, onde o avô paterno, Giovanni Casa, devotíssimo, construiu uma capela de Santo Antônio. Até hoje ela existe, está lá pra quem quiser conferir, no bairro que leva o nome da família de Marisa, Bairro dos Casa, onde antes foi o sítio de suas raízes, na periferia de São Bernardo do Campo. Os Casa, de Marisa Letícia, meus amores, foram tão imigrantes quanto os Matarazzo e outros tantos, que ajudaram a construir o Brasil.

Outro traço brasileiro dela, que acho lindo, é o prestígio às cores nacionais, sempre reverenciadas em suas roupas no Dia da Pátria. Obras de costureiros nossos, nomes brasileiros, sem os abstracionismos fashion de quem gosta de copiar a moda estrangeira. Eram os coletes de crochê, os bordados artesanais, as rendas nossas de cada dia. Isso sim é ser chique, o resto é conversa fiada.

No poder, ao lado do marido, ela claramente se empenhou em fazer bonito nas viagens, nas visitas oficiais, nas cerimônias protocolares. Qualquer olhar atento percebe que, a partir do momento em que se vestir bem passou a ser uma preocupação, Marisa Letícia evoluiu a cada dia, refinou-se, depurou o gosto, dando um olé geral em sua última aparição como primeira-dama do Brasil, na cerimônia de sábado passado, no Palácio do Planalto, quando, desculpem-me as demais, era seguramente a presença feminina mais elegante. Evoluiu no corte do cabelo, no penteado, na maquiagem e, até, nos tão criticados reparos estéticos, que a fizeram mais jovem e bonita.

Atire a primeira pedra a mulher que, em posição de grande visibilidade, não fez uma plástica, não deu uma puxadinha leve, não aplicou uma injeçãozinha básica de botox, mesmo que light, ou não recorreu aos cremes noturnos. Ora essa, façam-me o favor! Cobraram de Marisa Letícia um “trabalho social nacional”, um projeto amplo nos moldes do Comunidade Solidária de Ruth Cardoso. Pura malícia de quem queria vê-la cair na armadilha e se enrascar numa das mais difíceis, delicadas e técnicas esferas de atuação: a área social.

Inteligente, Marisa Letícia dedicou-se ao que ela sempre melhor soube fazer: ser esteio do marido, ser seu regaço, seu sossego. Escutá-lo e, se necessário, opinar. Transmitir-lhe confiança e firmeza. E isso, segundo declarações dadas por ele, ela sempre fez. Foi quem saiu às ruas em passeata, mobilizando centenas de mulheres, quando os maridos delas, sindicalistas, estavam na prisão. Foi quem costurou a primeira bandeira do PT. E, corajosa, arriscou a pele, franqueando sua casa às reuniões dos metalúrgicos, quando a ditadura proibiu os sindicatos. Foi companheira, foi amiga e leal ao marido o tempo todo.

Foi amável e cordial com todos que dela se aproximaram. Não há um único relato de episódio de arrogância ou desfeita feita por ela a alguém, como primeira-dama do país. A dona de casa que cuida do jardim, planta horta, se preocupa com a dieta do maridão e protege a família formou e forma, com Lula, um verdadeiro casal. Daqueles que, infelizmente, cada vez mais escasseiam. Este é o meu reconhecimento ao papel muito bem desempenhado por Marisa Letícia Lula da Silva nesses oito anos.

Tivesse dito tudo isso antes, eu seria chamada de bajuladora. Esperei-a deixar o poder para lhe fazer a Justiça que merece.

*Hidegard Angel é colunista social no Rio de Janeiro, filha da estilista Zuzu Angel e irmã do ex-militante político Stuart Angel Jones; trabalhou como atriz no cinema e na televisão na década de 1970, dedicou-se ao colunismo social no jornal O Globo e desde 2003 no Jornal do Brasil.

BRASILEIROS GANHAM PROJEÇÃO INTERNACIONAL

04/01/2011

Cientistas despertam atenção com trabalhos que vão da cura do Mal de Parkinson até a ‘energia escura’

Cibelle Bouças | De São Paulo, no Valor Econômico

O neurocientista Miguel Nicolelis pode receber um prêmio Nobel por seu trabalho sobre o mal de Parkinson. Outro brasileiro, o físico Daniel Vanzella, descobriu que a energia contida no vácuo é capaz de destruir estrelas. Gilberto Ribeiro desenvolve um resistor de memória capaz de mudar radicalmente o mercado de armazenagem de dados.

Ainda é raro encontrar cientistas e pesquisadores brasileiros como os da lista acima, que ocupam o topo da pirâmide acadêmica ou de inovação empresarial. O reconhecimento recente do trabalho deles, no entanto, mostra que há uma percepção internacional positiva sobre o trabalho de profissionais brasileiros, o que pode se traduzir em ganhos para a ciência no país.

Nos próximos meses, hospitais brasileiros podem abrigar a próxima fase do trabalho de Miguel Nicolelis sobre o Mal de Parkinson. Pela primeira vez, o tratamento proposto pelo neurocientista será testado em seres humanos. Em avaliação, estão instituições médicas em São Paulo e nos Estados Unidos.

Atualmente, Nicolelis divide seu tempo entre o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) e o Centro de Neurociência da Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA). No ano passado, ele recebeu o prêmio NIH Director’s Transformative R01, que concede US$ 4,4 milhões para aplicação em pesquisa, e o Director’s Pioneer Award, de US$ 2,5 milhões. Os prêmios estão entre os mais cobiçados no meio científico e costumam indicar potenciais candidatos ao Nobel. Nicolelis foi o primeiro cientista a receber as duas premiações no mesmo ano.

Os recursos serão usados na pesquisa para a cura do mal de Parkinson, desenvolvida desde 2006. Nicolelis e sua equipe já haviam desenvolvido uma técnica para tratar a epilepsia, a partir de estímulos elétricos em regiões periféricas do sistema nervoso, quando perceberam que havia semelhanças no padrão de comportamento do cérebro dos portadores das duas doenças, conta o cientista.

Com a constatação, cobaias passaram a receber medicação para apresentar sintomas como os do mal de Parkinson. Depois, a equipe implantou uma prótese na medula espinhal das cobaias, que disparava estímulos elétricos. A paralisia muscular e os demais sintomas desapareceram.

Esse trabalho tem sido realizado tanto na Universidade de Duke como no IINN-ELS. “Já foram feitos testes com camundongos e primatas. Agora buscamos um parceiro clínico para fazer testes em pacientes”, afirma Nicolelis. “Em dois anos será possível ter uma resposta categórica sobre o tratamento”, diz.

Outra pesquisa surpreendente é comandada pelo físico Daniel Vanzella, professor do Instituto de Física Teórica da Unesp e do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP). Vanzella e o doutorando William Lima publicaram, em abril, um estudo sobre a “energia escura” na “Physical Review Letters”, a mais respeita revista de física do mundo.

O artigo teve uma grande repercussão. Embora pareça uma fantasia tirada da série de filmes “Star Wars”, a energia escura intriga o meio científico há muito tempo. Na física, existem duas grandes teorias sobre o universo: a da Relatividade Geral, que descreve a organização do universo em grande escala (estrelas, galáxias etc) e a Quântica de Campos, que focada na chamada pequena escala (ligações químicas, átomos etc). Físicos no mundo tentam, ainda sem êxito, unir as duas teorias. Vanzella e seu aluno se atiraram a esse trabalho com uma análise da “energia escura”. Essa força, que faz o universo se expandir de forma acelerada, exerce uma forte pressão negativa, que seria contrária à gravidade.

Os cientistas partiram do princípio de que o vácuo é preenchido por partículas virtuais, como prótons, elétrons e fótons, que surgem e desaparecem em uma fração de segundo. Imaginava-se que a flutuação dessas partículas, por ser muito rápida, não gerava efeitos nos materiais macroscópicos. Vanzella e Lima descobriram, porém, que sob algumas circunstâncias o crescimento da energia do vácuo pode ocorrer de maneira exponencial e descontrolada, podendo destruir até uma estrela de nêutrons (a matéria mais densa já encontrada no universo).

Vanzella iniciou a pesquisa na Universidade de Wisconsin, nos EUA, mas só chegou à essa conclusão em São Carlos. Agora, ele procura responder, em seu pós-doutorado, o que ocorre com uma estrela quando a energia do vácuo “desperta”. “Essas são questões conceituais sobre os fundamentos da física, mas que vão ajudar a trazer um melhor entendimento sobre a natureza”, afirma Vanzella.

Antes de Vanzella, outro apreciador do espaço ganhou renome. Em 2006, Marcos Pontes, tenente-coronel da Força Aérea Brasileira (FAB), hoje na reserva, participou de uma missão à Estação Espacial Internacional (ISS), com oito experimentos em microgravidade de universidades e institutos brasileiros. “No espaço, [nós, astronautas] somos as mãos e os olhos dos cientistas; executamos os experimentos”, diz Pontes. Atualmente em Houston, na sede da Nasa, ele aguarda nova convocação para missões espaciais. “Espero ansiosamente por essa escalação”, diz.

WIKILIQUIDAÇÃO DO IMPÉRIO ?

26/12/2010 - 10:59 | Boaventura de Sousa Santos | Lisboa




A divulgação de centenas de milhares de documentos confidenciais, diplomáticos e militares, pela Wikileaks acrescenta uma nova dimensão ao aprofundamento contraditório da globalização. A revelação, num curto período, não só de documentação que se sabia existir mas a que durante muito tempo foi negado o acesso público por parte de quem a detinha, como também de documentação que ninguém sonhava existir, dramatiza os efeitos da revolução das tecnologias de informação (RTI) e obriga a repensar a natureza dos poderes globais que nos (des)governam e as resistências que os podem desafiar. O questionamento deve ser tão profundo que incluirá a própria Wikileaks: é que nem tudo é transparente na orgia de transparência que a Wikileaks nos oferece.

A revelação é tão impressionante pela tecnologia como pelo conteúdo. A título de exemplo, ouvimos horrorizados este diálogo – Good shooting. Thank you – enquanto caem por terra jornalistas da Reuters e crianças a caminho do colégio, ou seja, enquanto se cometem crimes contra a humanidade. Ficamos a saber que o Irã é consensualmente uma ameaça nuclear para os seus vizinhos e que, portanto, está apenas por decidir quem vai atacar primeiro, se os EUA ou Israel. Que a grande multinacional famacêutica, Pfizer, com a conivência da embaixada dos EUA na Nigéria, procurou fazer chantagem com o Procurador-Geral deste país para evitar pagar indenizações pelo uso experimental indevido de drogas que mataram crianças. Que os EUA fizeram pressões ilegítimas sobre países pobres para os obrigar a assinar a declaração não oficial da Conferência da Mudança Climática de dezembro passado em Copenhage, de modo a poderem continuar a dominar o mundo com base na poluição causada pela economia do petróleo barato. Que Moçambique não é um Estado-narco totalmente corrupto mas pode correr o risco de o vir a ser. Que no “plano de pacificação das favelas” do Rio de Janeiro se está a aplicar a doutrina da contra-insurgência desenhada pelos EUA para o Iraque e Afeganistão, ou seja, que se estão a usar contra um “inimigo interno” as tácticas usadas contra um “inimigo externo”. Que o irmão do “salvador” do Afeganistão, Hamid Karzai, é um importante traficante de ópio. Etc., etc, num quarto de milhão de documentos.

Irá o mundo mudar depois destas revelações? A questão é saber qual das globalizações em confronto - a globalização hegemônica do capitalismo ou a globalização contra-hegemônica dos movimentos sociais em luta por um outro mundo possível - irá beneficiar mais com as fugas de informação. É previsivel que o poder imperial dos EUA aprenda mais rapidamente as lições da Wikileaks que os movimentos e partidos que se lhe opõem em diferentes partes do mundo. Está já em marcha uma nova onda de direito penal imperial, leis “anti-terroristas” para tentar dissuadir os diferentes “piratas” informáticos (hackers), bem como novas técnicas para tornar o poder wikiseguro. Mas, à primeira vista, a Wikileaks tem maior potencial para favorecer as forças democráticas e anti-capitalistas. Para que esse potencial se concretize são necessárias duas condições: processar o novo conhecimento adequadamente e transformá-lo em novas razões para mobilização

BALANÇO: VITÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS

publicada quarta-feira, 15/12/2010 às 09:30 e atualizada quarta-feira, 15/12/2010 às 09:47



Por Marcelo Salles

Chegando ao final do ano, é possível afirmar: os Direitos Humanos conquistaram grandes vitórias em 2010. Candidatos que empunham abertamente essa bandeira foram eleitos em todo o país, como Luiza Erundina e Paulo Teixeira (SP), Camilo Capiberibe (AP), Erika Cocai (DF), Iriny Lopes (ES) e Eduardo Campos (PE), entre muitos outros.

Mas foi o Rio de Janeiro onde mais se avançou. Os três candidatos mais identificados com essa temática no estado – Chico Alencar e Alessandro Molon, eleitos deputados federais, e Marcelo Freixo, eleito deputado estadual – receberam quase o dobro da votação de três dos candidatos que se manifestam abertamente contra os Direitos Humanos, como os deputados federais Arolde de Oliveira e Jair Bolsonaro, e o deputado estadual Flávio Bolsonaro, que numa das manifestações mais contundentes afirmou: “Sou de direita. Luto contra os Direitos Humanos, que só servem para proteger os bandidos e os marginais”. Jair Bolsonaro fez campanha com uma camisa onde estava escrito: “Direitos Humanos: estrume da bandidagem”. O resultado das urnas foi 547.492 votos para os que lutam por Direitos Humanos x 278.425 votos para os outros três.

O resultado eleitoral torna-se ainda mais expressivo se considerarmos os ataques sistemáticos desferidos contra a terceira edição do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Lançado pelo presidente Lula e pelo ministro dos Direitos Humanos Paulo Vannuchi, em dezembro de 2009, o PNDH-3 reúne 519 ações programáticas em diversas áreas, como cultura, educação, saúde, crianças e adolescentes, população idosa, pessoas com deficiência, segmento LGBT e combate à tortura. Apesar de conter centenas de ações e diretrizes para garantir a democracia no país, o debate promovido pelos meios de comunicação de massa ficou restrito a quatro pontos: aborto, religião, mídia e propriedade rural. Dessa forma, o PNDH-3 foi reduzido a um saco de maldades que estaria disposto a censurar a imprensa e a religião, a facilitar invasões de terras e a legalizar o aborto. Certos grupos evangélicos chegaram a comparar o presidente Lula a Hitler por conta do programa, panfletos apócrifos foram espalhados pelo país e o deputado Arolde de Oliveira chegou a fazer outdoors contra o programa.

Felizmente a campanha de desinformação não deu certo. Além da votação histórica dos candidatos que levantam a bandeira dos Direitos Humanos, o país conquistou avanços significativos nessa área ao longo de 2010. Por exemplo, será a primeira vez que o Brasil terá um integrante no Subcomitê de Prevenção à Tortura da ONU; será a advogada Margarida Pressburger, que foi indicada pelo ministro Vannuchi. Numa outra iniciativa inédita, o Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos terá formado, até dezembro, 60 policiais que vão atuar em todo o território nacional protegendo gente como Chico Mendes e Doroty Stang. Por fim, mas não menos importante, foi eleito no último dia 10 o Mecanismo de Prevenção e Combate à Tortura no Rio de Janeiro – iniciativa de Marcelo Freixo –, que tornará o estado pioneiro no país na adoç ão dessa recomendação das Nações Unidas.

Claro que ainda há problemas, e problemas graves, como crimes homofóbicos, violência contra crianças e adolescentes, falta de acessibilidade para cadeirantes, perseguição a pessoas em situação de rua, entre outros. Mas as vitórias eleitorais e os avanços logrados em 2010 mostram que o Brasil atingiu um alto nível de maturidade política, com instituições democráticas fortalecidas e elevada consciência cidadã. Que o país continue assim por muito tempo, até o dia em que o slogan “bandido bom é bandido morto” não renda nenhum voto, e que qualquer debate tenha como pressuposto básico a defesa da vida

O INDISPENSÁVEL LIVRO SOBRE A VEJA

Cássio Augusto Samogin Almeida Guilherme*

O livro que todo brasileiro deve
ler. Esta é a melhor descrição
para a publicação de “Veja: O
indispensável partido neoliberal
(1989-2002)”, da professora
Carla Luciana Silva, que saiu
ainda no ano de 2009 pela
Edunioeste. Trata-se na verdade
de uma compilação de sua tese
de doutorado, apresentada no ano
de 2005 junto à UFF e sob
orientação da professora Virgínia
Fontes.
Não se trata de mais um livro clichê,
cheio de “denuncismos” sobre aquilo
que o leitor mais crítico já sabe: a
revista Veja atua “como agente
partidário que ajudou sobremaneira na
construção da hegemonia neoliberal no
Brasil” (p. 252), ou seja, que coloca-se
como imparcial, quando na verdade age
pedagogicamente na construção de um
consenso em torno do seu projeto.
Assim, o grande mote deste livro é a
capacidade da autora em lidar com as
edições da revista e fazer saltar aos
olhos do leitor as entrelinhas do
discurso partidário de Veja. Ao longo de
todo trabalho pode-se perceber que a
autora tem como importante referencial
teórico, as análises formuladas pelo
italiano Antonio Gramsci.

Veja a íntegra da resenha em Revista Espaço Acadêmico, edição nº 116, JANEIRO de 2011

domingo, 2 de janeiro de 2011

BAHIA INSTITUI CARREIRA DE PROFESSOR INDIGENA

Bahia aprova lei inédita no país que institui carreira de Professor Indígena

Publicado seg, 27/12/2010 - 17:45 por ascom2

A Assembleia Legislativa da Bahia aprovou, no dia 22 de dezembro, a Lei nº 18.629/2010, inédita no país, que institui a carreira de Professor Indígena no quadro do Magistério Público do Estado da Bahia. A proposta, encaminhada pelo Governo da Bahia, foi construída coletivamente pela Secretaria da Educação e os movimentos indígenas. A Bahia conta com 14 etnias indígenas distribuídas em todo o Estado.

O projeto de lei prevê a construção de uma educação diferenciada, específica e com qualidade, resultante do exercício partilhado com os índios. A linguagem, o método e formatação de ensino, direcionados especificamente para os índios, passam a ser peças fundamentais no entendimento e preservação da cultura indígena.

“A aprovação da lei que cria o cargo de Professor Indígena responde a uma antiga reivindicação do movimento indígena e tem como fundamento garantir uma educação específica intercultural e de qualidade, respeitando a cultura e os costumes dos povos indígenas”, afirma o secretário da Educação do Estado, Osvaldo Barreto. Com a lei, os professores terão a liberdade de ensinar, pesquisar e divulgar o saber, considerando a educação diferenciada, adequada às peculiaridades das diferentes etnias.

A Bahia tem 397 professores indígenas atuando nas 62 escolas instaladas nas aldeias, sendo 8 estaduais e 54 municipais. No total, estão matriculados 7.122 estudantes de 116 comunidades, atendendo as 14 etnias.

“Além da garantia trabalhista dos professores indígenas como cidadãos baianos e brasileiros, a regulamentação da sua vida funcional significa a continuidade de uma gestão autônoma na implementação do novo marco legal da educação intercultural indígena na contemporaneidade”, comemora a professora de História, Rosilene Araújo, índia Tuxá, coordenadora de Educação Indígena da Secretaria da Educação do Estado da Bahia.

A regulamentação do projeto de lei é comemorada pelas lideranças indígenas. “Queremos uma educação em que o índio pode ser doutor sem deixar de ser índio”, afirma o cacique Lázaro Kiriri, da aldeia Mirandela, no município de Banzaê.


Formação de professores e produção de material didático

A Secretaria da Educação do Estado vem investindo na formação de professores indígenas. Desde 2007, a Coordenação de Educação Indígena mantém um programa regular para atender aos professores em suas comunidades. 115 professores estão concluindo, no primeiro semestre de 2011, a formação inicial de Magistério (nível médio) específico para docentes indígenas. Na formação de nível superior, 108 professores indígenas estão fazendo a Licenciatura Intercultural na Uneb e outros 80 professores no Ifba em Porto Seguro, uma parceria da Secretaria da Educação e Ministério da Educação com as duas instituições de ensino. Mais 200 professores também estão em curso de formação continuada de ensino fundamental (séries finais) e ensino médio.

A formação vem acompanhada da produção de material didático específico para os estudantes indígenas. A Secretaria da Educação do Estado da Bahia, em parceria com o MEC, produziu e distribuiu material para as 62 escolas indígenas do Estado. Vale destacar que os conteúdos foram elaborados pelos próprios professores indígenas. “O resultado vai subsidiar a política de educação específica diferenciada para os povos indígenas”, informa Rosilene Araújo, ressaltando que “a Bahia está em processo de transição entre a escola posta para índios na visão externa e a nova escola pensada e construída a partir da visão indígena”.

Para a coordenadora, o grande objetivo da Secretaria da Educação da Bahia é “consolidar uma Escola que reflita sobre o modo de vida próprio, sobre a valorização e a manutenção das culturas e tradições indígenas e sobre o aproveitamento sábio dos territórios tradicionais. A educação escolar ganha, portanto, um novo sentido para esses povos, tornando-se um meio de acesso a conhecimentos universais, sistematização de saberes tradicionais e ressignificação dos valores culturais”.


Contato:
Coordenadora de Educação Indígena da Secretaria da Educação do Estado da Bahia: Rosilene Araújo, Índia Tuxá, professora de História e mestranda em Educação e Contemporaneidade (Uneb).
71-3115 8915 / 71-8866 7689 - rcaraujo@sec.ba.gov.br

Fonte: www.leliagonzalez.org.br

A MAIORIA DOS PAÍSES NÃO ACELEROU NOS ODM

Nova York, 27/10/2010

Estudo aponta que apenas em cinco de 24 indicadores há mais nações que aumentaram ritmo de evolução nos Objetivos do Milênio






da PrimaPagina

Em meados de setembro, uma cúpula com ministros e chefes de Estado e governo dos países da ONU resultou em um documento em que se renova a promessa de, até 2015, cumprir os ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio). No entanto, segundo um estudo publicado pelo CIP-CI (Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo), mais importante do que verificar se os países estão ou não prestes a atingir as metas é avaliar se eles fizeram progresso desde que as elas foram estabelecidas — e a maioria não fez.


A professora de Relações Internacionais Sakiko Fukuda-Parr e o pesquisador Joshua Greenstein, ambos da New School University, defendem que a melhor maneira de medir o sucesso dos ODM é analisar se a Declaração do Milênio, acordo de 2000 em que os países da ONU se comprometem com as metas, fez ou não diferença no desenvolvimento — ou seja, se os indicadores socioeconômicos melhoraram mais rapidamente depois que o documento foi assinado. Deve-se, portanto, examinar se houve aceleração, escrevem eles no artigo Como a implementação dos ODM deveria ser medida: aceleração do progresso ou cumprimento das metas?, disponível no site do CIP-CI, que é vinculado ao PNUD.


Os especialistas analisaram 24 indicadores dos Objetivos do Milênio para os quais há dados do início da década de 90, do início da década de 2000 e de um ano mais recente. Assim, puderam calcular a variação nos anos 90, a variação nos anos 2000, e comparar o desempenho dos dois períodos.


Em apenas cinco indicadores mais da metade das nações aumentou o ritmo das melhorias: pagamento da dívida como porcentagem das exportações, parcela da população vivendo em favelas, mulheres eleitas para o parlamento nacional, proporção da população vivendo com menos de um dólar por dia e porcentagem da população empregada.


“Nossa análise mostra que a maioria dos países não acelerou a melhoria depois dos ODM na maioria dos indicadores, e que muitos países na verdade regrediram em muitos indicadores”, escrevem Fukuda-Parr e Greenstein. Um terço dos países progrediu menos ou igual em 12 indicadores. O pior desempenho é na criação de áreas marinhas ou terrestres protegidas: o ritmo de melhoria aumentou apenas em 6% dos 216 países para os quais há números disponíveis.


Ao mesmo tempo, a análise mostra que as nações mais pobres são as que estão se desenvolvendo mais rapidamente — um aspecto não revelado pelos estudos que se limitam a avaliar se os países estão ou não no rumo para cumprir os Objetivos do Milênio. No grupo dos países menos desenvolvidos, 13 dos 24 indicadores aceleraram em mais de 50% dos países. Na África Subsaariana, mais da metade dos países intensificou o ritmo de melhoria em 16 dos 24 indicadores.


Assim, afirmam os autores, não faz sentido dizer que a África tem falhado nos ODM, como alega a maioria dos relatórios que apenas verificam quem deve e quem não deve atingir as metas. A pergunta principal não é "se os ODM serão cumpridos até 2015", argumentam — esse é um modo de ver que parte do pressuposto de que os Objetivos do Milênio são um plano de metas específicas. É melhor encarar os ODM como um grupo de diretrizes, como uma estratégia para o progresso, segundo os pesquisadores.

http://www.pnud.org.br/odm/reportagens/index.php?id01=3592&lay=odm